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quinta-feira, 15 de março de 2012

Carta para Zélia


                        Nos seus “Agradecimentos Megaespeciais” você disse: “Obrigada a cada um por não desistirem de mim, por serem cúmplices e testemunhas desse caminho, que começou há 30 intensos anos!”
                        Pois eu lhe respondo: Não precisa pedir, não precisa agradecer, porque mesmo que a gente quisesse desistir de você, isso já não seria possível, porque de alguma forma, em algum momento, você se emaranhou nos nossos sentimentos com uma ou várias de suas canções e já faz parte da nossa história. Simplesmente não temos como nos livrar disso. Nem queremos!
                        E a prova disso você tem visto e sentido com este seu novo (na acepção da palavra) trabalho. Quem já te viu em um palco jamais esquecerá e quem não viu ainda não sabe o que está perdendo. Você continua emocionando, porque você é emoção. Você É e não é preciso mais nada.
                        Confesso que quando a cortina se abriu e a vi ali no meio daquele palco despido de grandes cenários e você naquele seu “pretinho básico”, pensei: Será que isso vai ser bom? Foi. Foi estupendo. Você e a sua essência e é só disso mesmo que precisamos. Não há cenário nem figurino que fará diferença se temos você, sua voz e a sua emoção. Todo o resto se torna menor, mera perfumaria. Crédito, óbvio, também para a banda e para os compositores. Mas tudo isso, tenho certeza, não seria tão bom se não fosse com você.
                        E o ambiente só ajudou ainda mais a intimidade do momento. Como você mesma lembrou, conforme dizia a nossa queridíssima Ângela Leal, “o símbolo da resistência cultural” - nosso bom e velho Rival - nos acolhe e nos aconchega, com a sua história impregnada pelas paredes, faz com que nos sintamos em casa. E eu te digo, nos sentirmos em casa na sua companhia é tudo de bom.
                        O ato de criar, concordo com você, é um ato de egoísmo, quando nos vem a inspiração ficamos com aquilo martelando na nossa cabeça e nos angustiando, nos oprimindo e queremos, egoisticamente, nos livrarmos da idéia obsessora para conseguirmos ter paz. Depois que nos livrarmos da cria, nós a lançamos para o mundo e o tempo (e o público) é que vai se encarregar do destino dela, porque a nós ela já não pertence.
                        Seguindo este raciocínio desejo, ardentemente, que você tenha muitas destas crises, mas que não sofra, que liberte-se logo dessas crias e as jogue para nós, porque para nós elas são pérolas preciosas que nos acompanham pela vida afora. E sim, muitas delas traduzem o que sentimos, o que gostaríamos de dizer, como se a nossa mente tive sido lida. E juramos, é verdade, que foram escritas para nós, então declaramos descaradamente que é nossa. Essa é a minha música. É a música que marcou um momento, um acontecimento, um tempo, ou simplesmente é a leitura da nossa vida. Ainda está por nascer aquele que nunca teve uma música que jurou ter sido escrita para si. Queremos mais, muito mais de você e com você, porque ainda há muito pra se viver e precisamos ter uma boa trilha sonora para estes dias que ainda estão por vir.
                        Enquanto você destilava emoção naquele palco nós nos embriagávamos de emoção. Ok, confesso que bebemos também uma garrafa de vinho branco, mas nem chegou a fazer efeito, porque a adrenalina de tê-la ali, na nossa frente, completamente cúmplice na troca de energia, era imensamente maior.
                        Quando o último acorde silenciou e a cortina se fechou, um amigo da mesa ao lado perguntou: - Mas já, já acabou? – Sim, filhinho, o que é bom dura pouco, você não aprendeu ainda? Respondi.
                        É nestas horas que você percebe que teve o privilégio de assistir a um bom espetáculo. Quando fica este gosto de quero mais, muito mais. Por isso, não demore muito a voltar. Volte logo, o mais breve possível, nos proporcionar outras mágicas noites que, certamente, também entrarão para a nossa história. Queremos, no mínimo, mais 30 anos com você!


Vídeo: Pelo Sabor do Gesto

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