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quinta-feira, 29 de março de 2012

Esqueletos nos Armários

                        Tenho uma amiga que está, no momento, ao que me parece, naquela fase de interesse por alguém, que parece que está também afim e parece que a coisa vai render! - ou não? Está no início do que chamo de ‘fase de encantamento’.
                        Aquela fase em que, por mais que queiramos manter segredo, porque não sabemos se vai dar certo ou não, sentimos uma necessidade fremente de dividir com alguém a nova descoberta, a nova possível conquista, o novo possível envolvimento.
                        Chamo de ‘fase de encantamento’ porque é exatamente assim que ficamos: encantados. Dormimos e acordamos pensando, de alguma forma, no (possível) ser amado. Fazemos mil retrospectivas dos momentos já vividos e, às vezes, até duvidamos de que esteja realmente acontecendo. Achamos que estamos vendo coisas, que estamos confundindo os atos, gestos e demais atenções que recebemos. Ao mesmo tempo, temos certeza de que todos os atos, gestos e atenções foram sim, demonstrações de interesse. Um verdadeiro e delicioso inferno repleto de dúvidas e certezas que nos assolam o tempo todo e ao mesmo tempo.
                        Quando percebi o que estava acontecendo, mesmo sem ela ter me dito abertamente, fui pragmático: deixa rolar pra ver o que acontece e aproveite porque esta é a melhor fase.
                        E é mesmo, porque nesta fase tudo o que vemos são as qualidades do outro, até porque o outro não nos mostra os defeitos, nos mostra exatamente o que queremos ver. E a recíproca é verdadeira, também nós damos ao outro, com toda a cautela, somente o que percebemos que ele quer.
                        Depois de algumas experiências, umas boas, outras nem tanto e até uma ou outra mais traumática, vamos aprendendo a lidar com esta ‘fase de encantamento’. Sabemos que há muito por se descobrir e que, por mais que pareça, o outro tem lá os seus defeitos, todos têm.
                        No meu atual casamento, quando a coisa começou, embora ambos tenhamos sentido que haveria a possibilidade de engrenar, pactuamos em ir com calma, vivendo um dia após o outro e foi nessa negociação que ouvi a seguinte colocação: - Vamos aguardar e ver o que acontece quando os esqueletos começarem a sair dos armários. Gostei, principalmente pelo inusitado da forma de dizer que nem tudo seria perfeito e que haveria, sim, coisas que poderiam não ser tão agradáveis e que teríamos de superar. Tem funcionado, muitos esqueletos já saíram dos armários e temos superado a todos. Não com tanta facilidade como possa parecer, mas com base no respeito e na cumplicidade, que no final das contas é o que é imprescindível.
                        Na minha adolescência descobri uma frase, em uma das músicas do Pink Floyd, que passou a ser o meu mantra, a minha frase de campanha. Cheguei a estampar uma camiseta com ela, que usei enquanto durou. Hoje a usaria com a mesma desenvoltura porque considero essa frase uma verdade absoluta e atemporal – If a show you my dark side, will you stay with me?
                        Temos todos um lado negro que, cedo ou tarde, aflora. Ter a capacidade de transpô-lo vai exigir a sabedoria necessária que cada um tem que ter se quiser fazer com que o relacionamento dê certo e siga adiante.
                        Era isso que eu queria dizer a minha amiga, que ela aproveitasse a fase de encantamento, porque depois desta fase vem aquela em que os esqueletos começam a sair dos armários e nesta temos que ter a sabedoria e o jogo de cintura necessários para contorná-la se quisermos seguir apostando nesta nova história a ser vivida. É a fase em que cada um mostra o seu lado negro. Se superada, o relacionamento se solidifica e passamos a ser não mais pessoas encantadas, mas cúmplices em uma vida em comum.
                        Como não deu tempo de falar nisso naquele dia, estou falando agora. Mas não se preocupe com isso nesta fase, amiga, tudo a seu tempo. Por enquanto viva o seu encantamento, que esta é a melhor fase e é dela que você guardará as suas melhores lembranças.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Beleza se Põe à Mesa, Sim!


para Vera, "A Lora"!


                        As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental! O poeta (Vinícius de Moraes) sempre esteve certo. Eu sempre fui relevante com esta questão, acho que para não ser tachado de machista, mas cansei, digam o que quiserem, mas a verdade é que ninguém gosta do que é feio!
                        Há os que preferem ainda continuarem se escondendo, convenientemente, atrás da tal “beleza interior”. Se é interior a gente não vê, portanto, não me serve. Admiro sim, conteúdo, mas convenhamos que um bom conteúdo embalado em beleza é estupendamente melhor.
                        A quebra deste tabu pessoal foi dada por uma amiga, a própria lá em cima, fiel amante do belo, a quem dedico esta crônica. Em uma noite de peregrinação pelos bares ela me fez passar por vários, até que achássemos um que a agradasse. Sem nenhum pudor ela declarava depois de dar uma olhada nos freqüentadores: - Não vamos ficar aqui, essa gente é muito feia!
                        No início eu até argumentei que estando entre os feios tínhamos mais chances de sermos os bonitos. Não adiantou. Ela respondeu convicta: - Não gosto de gente feia me olhando!
                        Depois disso comecei a rever os meus conceitos sobre a beleza e sim, concordo com ela. O feio me deprime! Ninguém gosta, só que poucos admitem. Vá lá que o conceito de beleza é totalmente subjetivo, tudo bem, o que pode ser belo pra uns, pode não ser pra outros. Respeito, cada um com os seus (mal) gostos, mas isso não vai mesmo me impedir de continuar achando feio.
                        Não sou nenhum Adônis, eu sei, mas tenho espelho em casa e tenho bom senso, então consigo passar por “bonitinho”, que bem sabemos “é um feio arrumadinho”. Já é meio caminho andado, bem arrumadinho até passa, mas feio e desajeitado não tem perdão. Não dá pra encarar.
                        Sei que temos que passar por privações nesta vida, mas ando inconsolável com a que ando vivenciando ultimamente: estou privado da beleza à minha volta! Que me perdoem os bonitos, mas a feiúra impera na cidade maravilhosa acompanhada de sandálias havaianas, o calçado oficial usado desde a hora que se levanta até os teatros, cinemas, shows, shoppings, bares, restaurantes e qualquer lugar que você possa imaginar. Combinando com elas uma bermuda e uma camiseta, que muitas vezes está jogada por sobre os ombros ou dependurada na cintura, no caso dos homens. O que as mulheres usam nem dá pra considerar, porque se tem a nítida impressão de que faltou tecido, muito tecido, em qualquer peça, seja lá qual for a roupa. Socorro! Quero voltar pra casa!
                        O belo nos encanta, faz com que nos sintamos melhor, já a falta de beleza nos deprime, nos deixa com aquela sensação de que falta alguma coisa. Em tudo é assim. Uma pessoa pode ser uma sumidade em talento, conhecimento etc. e tal, se for feia, com certeza perderá muito da empatia do seu público. Um filme, uma peça teatral, poderá ser muito bom em conteúdo, diálogos, atores, etc., mas se não tiver uma boa fotografia (cenário, iluminação, figurinos, principalmente no teatro) já não será considerado tão bom. E o inverso comprova isso, pode não ser lá algo de muito talento, mas se for belo arrebatará a opinião pública, mesmo que a crítica especializada demonstre o seu pouco valor artístico, criativo, etc. E convenhamos que o que importa mesmo é a opinião do povo - a voz do povo...
                        Hoje temos inúmeros recursos, em todas as áreas, para driblar a feiúra, que nem são tão caros, basta ter bom senso. Não consigo entender porque ainda existem tantos que não conseguem conjugar o verbo embelezar. Só pode ser baixa-estima, ou estima nenhuma!
                        Quando eu estou me sentindo feio - ninguém escapa destes dias - procuro dar logo um jeito de melhorar, porque não acho justo comigo e menos ainda com os outros terem que aturar a minha feiúra.
                        E dou total apoio às mulheres que, como a minha amiga, procuram pelo belo, se for com conteúdo, melhor ainda. Tá difícil? Eu sei filhinha, a vida não é justa! Então bola pra frente, valorize-se, e mantenha o bom senso, porque beleza não pode ser confundida com vulgaridade. E se o que você tem em casa é o famoso homem-pantufa – aquele que é bom de usar em casa, mas dá uma vergonha de sair na rua... – reveja os seus conceitos e valores, principalmente se você já tentou e chegou à conclusão de que não vai conseguir fazer com que haja uma melhora com o dito cujo.
                        Agora já sabem, então pensem duas vezes antes de pedirem a minha opinião, não vou manter ninguém enganado só pra ser simpático. E o mais importante, não se engane por conveniência, seja realista, vai valer a pena, você vai descobrir. E me poupem de tudo que seja feio, não é tão difícil quanto parece, com pouquíssimo esforço se consegue bons resultados.
                        Tenham belos momentos hoje!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Carta para Zélia


                        Nos seus “Agradecimentos Megaespeciais” você disse: “Obrigada a cada um por não desistirem de mim, por serem cúmplices e testemunhas desse caminho, que começou há 30 intensos anos!”
                        Pois eu lhe respondo: Não precisa pedir, não precisa agradecer, porque mesmo que a gente quisesse desistir de você, isso já não seria possível, porque de alguma forma, em algum momento, você se emaranhou nos nossos sentimentos com uma ou várias de suas canções e já faz parte da nossa história. Simplesmente não temos como nos livrar disso. Nem queremos!
                        E a prova disso você tem visto e sentido com este seu novo (na acepção da palavra) trabalho. Quem já te viu em um palco jamais esquecerá e quem não viu ainda não sabe o que está perdendo. Você continua emocionando, porque você é emoção. Você É e não é preciso mais nada.
                        Confesso que quando a cortina se abriu e a vi ali no meio daquele palco despido de grandes cenários e você naquele seu “pretinho básico”, pensei: Será que isso vai ser bom? Foi. Foi estupendo. Você e a sua essência e é só disso mesmo que precisamos. Não há cenário nem figurino que fará diferença se temos você, sua voz e a sua emoção. Todo o resto se torna menor, mera perfumaria. Crédito, óbvio, também para a banda e para os compositores. Mas tudo isso, tenho certeza, não seria tão bom se não fosse com você.
                        E o ambiente só ajudou ainda mais a intimidade do momento. Como você mesma lembrou, conforme dizia a nossa queridíssima Ângela Leal, “o símbolo da resistência cultural” - nosso bom e velho Rival - nos acolhe e nos aconchega, com a sua história impregnada pelas paredes, faz com que nos sintamos em casa. E eu te digo, nos sentirmos em casa na sua companhia é tudo de bom.
                        O ato de criar, concordo com você, é um ato de egoísmo, quando nos vem a inspiração ficamos com aquilo martelando na nossa cabeça e nos angustiando, nos oprimindo e queremos, egoisticamente, nos livrarmos da idéia obsessora para conseguirmos ter paz. Depois que nos livrarmos da cria, nós a lançamos para o mundo e o tempo (e o público) é que vai se encarregar do destino dela, porque a nós ela já não pertence.
                        Seguindo este raciocínio desejo, ardentemente, que você tenha muitas destas crises, mas que não sofra, que liberte-se logo dessas crias e as jogue para nós, porque para nós elas são pérolas preciosas que nos acompanham pela vida afora. E sim, muitas delas traduzem o que sentimos, o que gostaríamos de dizer, como se a nossa mente tive sido lida. E juramos, é verdade, que foram escritas para nós, então declaramos descaradamente que é nossa. Essa é a minha música. É a música que marcou um momento, um acontecimento, um tempo, ou simplesmente é a leitura da nossa vida. Ainda está por nascer aquele que nunca teve uma música que jurou ter sido escrita para si. Queremos mais, muito mais de você e com você, porque ainda há muito pra se viver e precisamos ter uma boa trilha sonora para estes dias que ainda estão por vir.
                        Enquanto você destilava emoção naquele palco nós nos embriagávamos de emoção. Ok, confesso que bebemos também uma garrafa de vinho branco, mas nem chegou a fazer efeito, porque a adrenalina de tê-la ali, na nossa frente, completamente cúmplice na troca de energia, era imensamente maior.
                        Quando o último acorde silenciou e a cortina se fechou, um amigo da mesa ao lado perguntou: - Mas já, já acabou? – Sim, filhinho, o que é bom dura pouco, você não aprendeu ainda? Respondi.
                        É nestas horas que você percebe que teve o privilégio de assistir a um bom espetáculo. Quando fica este gosto de quero mais, muito mais. Por isso, não demore muito a voltar. Volte logo, o mais breve possível, nos proporcionar outras mágicas noites que, certamente, também entrarão para a nossa história. Queremos, no mínimo, mais 30 anos com você!


Vídeo: Pelo Sabor do Gesto

domingo, 11 de março de 2012

Muito Além do Chic!


                        Assisti esta semana a uma entrevista que Marília Gabriela fez com Glória Kalil. Gabi é a melhor entrevistadora da televisão brasileira, tem história, talento e empatia de sobra, consegue fazer sempre com que as suas entrevistas rendam um bom programa, mesmo quando o entrevistado não rende muito. Não foi o caso da entrevista a que me referi lá no início, neste caso foi um programa excelente porque a entrevistada, descobri, é bárbara!
                        Já na metade do primeiro bloco eu desejei, embevecido, que este programa fosse mais extenso que o normal, porque Glória Kalil estava dando uma aula a cada pergunta, sempre com extrema elegância. Gabi não precisou de nenhum esforço para conduzir o programa, bastava dar o tema e lá vinha uma verdadeira torrente de informações, muito além do que havia sido perguntado. Fiquei surpreso e maravilhado, foi mesmo uma Glória!
                        Como muitos, ouvi falar de Glória Kalil em 1986 quando ela lançou Chic!, o seu primeiro livro. Confesso que após lê-lo fiquei decepcionado, o achei fraco, simples, contendo conceitos que eu já conhecia, já praticava, ou seja, um livro que não me acrescentou muito. Era a década de 80, eu tinha as minhas expectativas, menos experiência e esperava um livro com conceitos inovadores, superproduções, algo de espetacular sobre moda e comportamento. Acho que esperava um release das atuais Fashion Weeks.
                        De lá pra cá muita coisa mudou, surgiram novos conceitos, novos comportamentos, novas tendências, novas conquistas, não só no mundo da moda, mas no mundo em geral. Por isso Chic! está sendo relançado, devidamente atualizado em consonância com o momento em que estamos vivendo.
                        Hoje percebo claramente a intenção de sua autora na época e a proposta que o livro trazia: ser chic é, antes de tudo, ter bom senso! E vejo, até com certo orgulho que, se na época o ali contido não me era novidade, era porque eu era chic e não sabia! Hoje percebo que o que eu queria, na época, era muito mais que isso, queria uma forma de me auto-afirmar naquela sociedade, de ser aceito, bem aceito, entre os meus iguais da época. Por isso queria uma fórmula mágica que fizesse com que eu fosse visto, fosse notado, que eu não passasse despercebido. Em sua entrevista ela me fez ver isso.
                        Glória Kalil é formada em sociologia, já esteve praticamente em todos os lados que envolvem o mercado da moda, conhece esta indústria em todos os seus segmentos e a nível mundial, está sempre bem informada sobre todos os aspectos que envolvem a moda, as tendências, o comportamento. É uma estudiosa do assunto e empreendedora antes de tudo. Por isso quando manifesta a sua opinião sobre o tema, sob qualquer enfoque, o faz com conhecimento de causa, com a tranqüilidade de quem sabe o que está falando, para quem está falando e com subsídios que não deixam dúvidas sobre a credibilidade do que foi dito.
                        Foi neste clima que rolou a entrevista, com muito bom humor e informações consistentes. Eu ficaria a noite toda a ouvindo falar, bebi avidamente cada informação que foi dada e constatei que muito além de uma consultora de moda, jornalista e empresária, há ali uma mulher chic por natureza e por formação. E olha que eu nem sou ligado, diretamente, ao mundo da moda, mas não há como ficar indiferente ao que Glória diz (já estou me sentindo íntimo) porque as informações que ela nos passa são sempre subsidiadas por fatos e acontecimentos incontestáveis e interessantes quando visto pelo lado da moda.
                        Quando o programa, infelizmente terminou (eu queria mais, muito mais), cheguei a conclusão que, definitivamente, se Glória Kalil não fosse Glória Kalil, ainda assim ela seria pra lá de Chic!


Vídeo: Glória Kalil de Frente com Gabi

quinta-feira, 8 de março de 2012

Poesia Cruzando os Ares


                        Onde muitos vêem novidade, simpatia, comodidade, bom atendimento, às vezes um preço competitivo, bom marketing, bom tino comercial, eu vejo poesia. Não que eu não veja estas outras qualidades, vejo e torço para que continuem cada vez melhores, sob todos os aspectos e, principalmente, no quesito bons preços. Quando digo que vejo poesia é porque foi exatamente o lado poético que me chamou a atenção desde a primeira vez. Estou me referindo à Azul, a companhia aérea que passou a disputar o espaço aéreo nacional em 2008 e neste pouquíssimo tempo conquistou milhões de brasileiros, inclusive a mim.
                        Tenho uma franca admiração por David Neeleman, o seu fundador, já li um pouco sobre a trajetória dele e o considero o Bill Gates da aviação. O cara é bom, conhece o terreno onde pisa (ou melhor, onde voa) e o seu público consumidor. Tem tido uma vida dedicada aos ares, mas mantém os pés bem firmes em solo. Tem umas sacadas de marketing que está inovando, com sucesso, o segmento da aviação nacional.
                        O que mais me chama a atenção, no entanto, é a poesia que cerca cada detalhe da companhia, desde a sua concepção até o serviço final que é prestado, começando pelo nome: Azul. Não há como negar que é um nome poético, a cor é poética, inspira tranqüilidade, calmaria, serenidade. Por suas boas vibrações é muito utilizada no esoterismo e na cromoterapia. Voar Azul – me remete ao vôo de um pássaro azul, no azul do espaço. Gosto dessa analogia poética.
                        Recordo que a primeira vez que voei Azul, quando teve início o serviço de bordo, fiquei encantado quando vi as comissárias (tripulantes, como define a companhia) carregando os cestos de vime. Na hora me veio à mente a imagem de camponesas italianas nos campos de trigo e arroz. Em nada lembravam as sisudas “aeromoças” do passado. Eu tinha medo delas. Tinha a impressão de que se fizesse qualquer coisinha errada durante o vôo elas iriam me por de castigo. Algumas companhias ainda as mantêm, as “moças aéreas”, como eu as defino, porque dão a impressão de que estão acima, inclusive, da própria aeronave, de tão empertigadas que são, mesmo em solo continuam com a cabeça lá em cima, praticamente nas nuvens. Hoje não tenho mais medo, mas também não as acho menos antipáticas. Ainda prefiro as “camponesas azuis”.
                        No final do vôo quando a tripulação agradeceu “por termos passado parte do nosso dia com eles” e se despediu desejando a todos que tivessem “uma noite azul”, me conquistaram de vez. Cheguei em casa e comentei essa minha estréia pela companhia ressaltando este lado poético e acreditando mesmo que eu teria “uma noite azul”.
                        E a poesia não parou por aí, ainda tinha mais, conforme eu descobri nos vôos seguintes. Lendo a revista de bordo da companhia fiquei informado de que as aeronaves, além do prefixo obrigatório são batizadas também com um “nome de batismo”. Lendo os mesmos os achei bastante criativos e poéticos: Planeta Azul, O Rio de Janeiro Continua Azul, Azul Paulista, A Liberdade é Azul, Azul da Cor do Mar, - Céu, Sol, Sul, Azul – Blue Angels, Sonho Azul... e por aí vai.
                        A partir daí passei a observar, na hora do embarque, o nome da aeronave na qual eu iria voar, uma brincadeira lúdica e engraçada que, na minha imaginação me remete a poemas, músicas, filmes, livros, etc. Recentemente, na volta do Carnaval, fiz o vôo Navegantes – Rio, com conexão em Campinas. Iniciei o trajeto na Rosa e Azul (a aeronave cor de rosa que marcou a bem sucedida parceria da Azul com a.FEMAMA no combate ao câncer de mama com o trabalho de conscientização da população). Esse nome, além das reminiscências femininas que evoca, me faz lembrar um dos trabalhos de Marisa Monte, o disco Cor de Rosa e Carvão, que acho ótimo. Em Viracopos fiz a conexão para o Rio e vim na Céu Azul, que me faz lembrar, especificamente, de um trecho da letra da música Azul, do Djavan, que diz: “Até o sol nascer amarelinho/Queimando mansinho/Cedinho, cedinho (cedinho)/Corre e vá dizer/Pro meu benzinho/Um dizer assim/O amor é azulzinho”... Coisas de quem traz a escrita nas veias e um pouco de poesia pelo sangue, porque senão a vida perde a graça.
                        Neste mesmo vôo percebi uma outra sacada de marketing da companhia, com uma dosezinha de poesia: as novas embalagens das batatinhas que fazem parte do serviço de bordo e que todo mundo adora, em novas embalagens com a frase: “As tais das batatinhas que fizeram a Azul mundialmente famosa”. Anotei na hora a frase e foi neste exato momento que me veio a inspiração para esta crônica.
                        Lendo a revista de bordo notei que há uma aeronave (a PR-AYX - Embraer 195) que ainda não foi “batizada”, está cruzando os ares sem o seu nome de batismo. Se eu voar nela, quais as reminiscências que me trará? Branco total, não aceito. Poema Azul – fica aqui a sugestão!
                        Que tenham vida longa estes pássaros azuis que cruzam os ares, que voem cada vez mais alto e longe, que não percam o principal objetivo que é proporcionar ao cliente “a melhor viagem aérea possível”, conforme é o desejo do diretor da companhia, que a busca pelo lucro não mate a poesia e, por fim, que o preço das passagens continue sendo uma realidade terrena, que caiba nos nossos bolsos e não seja apenas um sonho na imensidão do firmamento Azul. Amém.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Carnaval com Martha Medeiros


                        O embarque já estava acontecendo quando cheguei ao aeroporto, como sempre eu já estava com o chek-in pronto e o cartão de embarque impresso, como quase sempre eu estava atrasado, tudo bem, era só embarcar mesmo. Mas, opa! desta vez eu tinha bagagem para despachar! Viajo com freqüência apenas com a bagagem de mão, mas desta vez era uma merecida viagem de folga na semana do Carnaval, portanto, não dava pra levar somente o notebook. Embora fosse uma mala pequena, certamente não caberia no compartimento de bagagem. Consegui a prioridade no despacho porque o vôo já estava em última chamada.
                        Passei para a sala de embarque e me lembrei de que não tinha levado nenhum livro. Falha gravíssima, livro em viagem, pra mim, é como se fosse parte do meu corpo, é o membro a mais que infelizmente poucos possuem. Entrei em quase desespero, teria que me contentar com a revista de bordo. E se fosse uma que eu já havia lido? O que era muito provável. Olhei para a fila do embarque, ainda estava grande e eu estava bem em frente a uma livraria (bookstore – chique - na linguagem dos aeroportos), não tive dúvidas, me joguei pra dentro dela. A mente trabalhando a mil, não poderia ficar ali namorando os livros como sempre faço, como gosto de fazer, teria que ser rápido e já estava pedindo ajuda aos deuses quando ela me acenou.
                        Lá estava ela, na estante da livraria, bem visível diante dos meus olhos: Martha Medeiros! Um livro que eu ainda não havia lido, era tudo o que eu precisava. Um olho no caixa (que estava vazio, graças a Deus) e o outro na fila de embarque chegando ao seu fim. Entreguei o livro e o cartão de crédito juntos, não queria nem saber o preço, queria pagar e embarcar de uma vez antes que fechassem o vôo. Fui o último a embarcar, isso não é bom, você corre o risco de ter que viajar com a bagagem de mão nos pés, se os bagageiros já estiverem lotados. Neste caso você passa a ter uma bagagem de pés, te incomodando a viagem toda porque reduz ainda mais o espaço já tão apertado das aeronaves. Mas tudo bem, férias, eu estava duplamente feliz com a minha amiga embaixo do braço. Que venham as conexões, porque tempo temos de sobra e nenhuma pressa mais. E assim fomos felizes curtir juntos o Carnaval nas praias paradisíacas de Florianópolis.
                        Não é segredo e quem tem acompanhado a minha trajetória nesta brincadeira de escrever (que levo muito a sério) sabe que sou fã, de longa data, desta cronista, escritora, poeta, romancista, doida e divina (fazendo analogia a ela mesma em Doidas e Santas). Gosto do seu estilo despojado e inteligente, sua simplicidade e elegância na forma como nos mostra as suas verdades. Ela me inspira e mais que isso é como se fosse a minha Guru, porque, às vezes, acho que o que escrevi está tão simples, tão sem graça, totalmente dispensável e aí leio alguma coisa dela que acho exatamente tudo isso. Ora, se ela, que é Ela, escreve (e publica) crônicas às vezes, na minha opinião, mixurucas e dispensáveis, porque eu não haveria de fazer o mesmo? E faço, vai pro blog e azar se não gostarem.
                        Se ela, que é Ela, não consegue agradar a todo mundo, não serei eu que vou me sacrificar pelo simples prazer de escrever. Nem sei por que esta crônica está tomando este rumo, a proposta era comentar o meu Carnaval na companhia dela. Ah!, já sei porque tomou este rumo, é porque gosto dela e fico empolgado quando ela é o tema do assunto. Ponto final.
                        Voltando ao tema, o Carnaval foi ótimo conforme já o descrevi na crônica anterior, o que eu não havia dito é que houve dias em que eu não estava muito no espírito de praia com algazarra, bebidas e palhaçadas. Nestes dias eu preferi a companhia de Martha Medeiros, que não chegou a incomodar, mas causou certo espanto em alguns. Não por ela, óbvio, mas por mim, vamos combinar que livro e praia combinam em um ambiente calmo, sereno, tranqüilo, com criancinhas brincando na areia, na água, não no meio de um povo nervoso, ao som (alto, frise-se) de eletro dance. Pois foi nesse clima que ficamos e ficamos muito bem. Foi o livro perfeito porque entre umas crônicas e outras dava para fazer uma pausa, interagir um pouco com a galera e voltar pra leitura. Senso de companheirismo, porque ninguém merece a companhia de intelectualóides em pleno Carnaval!
                        Confesso que a façanha teve lá o seu charme também, entre aquela balbúrdia toda chamava a atenção alguém alheio a tudo o que estava acontecendo entregue a um livro. Chamamos a atenção pelo silêncio e alheamento. Ponto pra nós que divulgamos cultura.
                        Martha Medeiros é sempre uma boa leitura, em qualquer lugar e a qualquer hora. Então, faça as malas companheira, nosso próximo destino é Paraty!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Carnaval - O Resumo da Ópera!


                        Comentei em uma crônica anterior que havia me programado para um Carnaval bastante divertido. E foi. Um bando de doidos reunidos em uma casa de praia com o propósito maior de se divertir. Uns repetindo a façanha de Carnavais anteriores e outros ingressando pela primeira vez nessa aventura. Além dos integrantes da casa estávamos cercados ainda de vários outros amigos e conhecidos pelas casas e pousadas vizinhas, o que fez com que o lugar se tornasse o nosso território. Encontrávamo-nos nas praias, nos bares, restaurantes, sorveterias e também nos visitávamos, como se já morássemos ali a tempos e fôssemos velhos vizinhos. Coisas de gaúcho, que mesmo em pleno Carnaval mantém a tradição de se visitar, tomar um chimarrão, um cálice de espumante, uma cerveja, compartilhar a mesa, compartilhar um momento e fortalecer a amizade.
                        O dia seguinte era sempre uma expectativa para se saber o que rolou no dia anterior, ou na noite passada, porque nem tudo se fazia juntos e cada um sempre tinha uma nova história para contar, ou mais de uma, em alguns casos. Tanto entre os integrantes da casa, como nas casas vizinhas. E histórias foi o que não faltou! A grande maioria rendendo boas gargalhadas, tudo com muito humor, negro às vezes, ácido na maior parte do tempo, mas sempre humor (Jacson é mestre nesta arte e eu não fico atrás!).
                        Rolou de tudo, menos samba! De música ao vivo a música eletrônica, os próprios bares deram o tom. Até se lembrava que era Carnaval porque os blocos do lugar saíram quase todas as noites e os integrantes até se fantasiaram, mas o som em nada lembrava o samba característico do Carnaval. Ah! Tinha também umas crianças demoníacas com uns malditos sprays de espuma (não é Márcio?) que nos faziam lembrar que era Carnaval.
                        Mas o que a turma queria mesmo era praia, sol, um pouco de álcool porque senão perde a graça e muito beijo na boca (Dani que o diga!). Teve também os romances de Carnaval, prá tudo terminar na quarta-feira, ou não (não é Hamilton?). Teve relação sendo discutida (não é Igor?) e muita terapia em grupo. Terapia de confronto que é a que eu gosto! E salve-se quem puder! E pode tudo, menos perder o louco do bom senso e a doida da razão (certo Paulo?), se é que vocês me entendem!
                        Teve os que se perderam (ou se acharam) bem antes do Carnaval e só apareceram na casa quando o feriadão já estava na metade, não deu nem tempo de fazer o devido interrogatório (esse interrogatório ainda vai rolar, viu Vagner?). Teve o que caiu de pára-quedas na turma e no segundo dia já estava mais enturmado que os outros que convivem diariamente – valeu Rodrigão! Se estes feriadões fossem mais freqüente acho que Curitiba iria perder um de seus habitantes!
                        Brincadeiras à parte (como está o Brasil, Joey?), o importante mesmo nesta folia foi o entrosamento e os laços de amizades que se fortaleceram e os novos que se criaram. E quando falo em laços não estou me referindo somente ao bom entrosamento do grupo, estou me referindo a laços mesmos, que unem pela cumplicidade, pelo respeito, pela tolerância, pelo carinho. Estou fazendo uso das palavras para expressar isso, mas na verdade elas (as palavras) não são suficientemente adequadas, porque estes laços se criam e se fortalecem mesmo é pelos gestos e atitudes, por um gesto aqui, uma atitude acolá, uma frase, um elogio que sai numa hora em que a gente menos espera, um recado deixado no papel do pão, etc. Coisas pequenas, mas que ganham um valor incalculável.
                        Esta crônica foi a forma que encontrei (uma boa forma, eu diria) para dizer a todos que não foi só mais um Carnaval, espero ter dado um pouco de mim nestes dias, porque recebi muito de vocês, tenham certeza. Não sou muito de verbalizar o que sinto, então se liguem nas outras formas de demonstração de afeto e verão que há um grande carinho por cada um. É o meu Muito Obrigado pela companhia e por tudo mais - “Para Wong Foo, Obrigada por tudo! Julie Newmar” (risos).
                        Que venham outros encontros, outros Carnavais! E enquanto isso não acontece, eu proponho um brinde à harmonia da casa! Um brinde à amizade, sempre em harmonia! Tim, tim.


Vídeo: Floripa - Carnaval 2012