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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Um Lugar Chamado Bom Gosto


                        Descobri um lugar que gostaria de compartilhar com alguns amigos, compartilhar no sentido de estar lá na companhia deles, iria ser uma festa! Digo alguns amigos porque estou me referindo aqueles amigos que, pelo que conheço, iriam curtir muito o lugar. Sempre que vivencio alguma coisa boa sempre me lembro dos amigos que também iriam curtir. Vamos combinar que: é muito mais divertido estar em turma para fazer alguns programas que sozinho, uma turma que, é claro, seja afinada!
                        Algumas coisas é bom fazer sozinho, outras a dois e outras em turma. E mesmo em turma, às vezes, conseguimos ter todas estas opções, é só uma questão de saber administrar as coisas.
                        Como não foi possível ter eles juntos, vai a dica e o alerta geral para todo mundo: Atenção turistas, cariocas desavisados, residentes e todos aqueles que precisam de um energético pra recarregar as baterias e se livrar do stress. Há um lugar no Estado (do Rio) que bem poderia ser chamado de “Bom Gosto”. Recomendo. Esqueça Zona Sul, Barra, Recreio e adjacências. Estou falando de Búzios (Armação dos Búzios para ser correto). Mal cheguei de lá e já quero voltar, na verdade nem queria ter retornado, ao menos por mais alguns dias.
                        O lugar é uma delícia, principalmente para aqueles que curtem a natureza mas, como eu, não abrem mão do urbanismo. Búzios conjuga as duas coisas de forma muito bem dosada. As praias são encantadoras e tem praia pra todos os gostos, desde as mais isoladas, pequenas, passando pela de nudismo, até praias grandes, movimentadas, com todos os tipos humanos presentes e, o que é melhor, serviço de garçons na areia, onde você pode saborear uma deliciosa porção de camarões empanados sem fazer o menor esforço, servido em mesas, instaladas na areia, embaixo de guarda-sóis à beira mar.
                        O bom gosto está presente por toda parte e em todos os segmentos, dos lugares mais simples aos mais sofisticados e em alguns com um toque pitoresco que, de alguma forma, dá charme ao lugar. Você será sempre bem atendido, com simpatia, uma característica do povo buziano que fará com que você se sinta em casa. Búzios é um lugar para ser descoberto aos poucos, em doses homeopáticas e faz muito bem pra saúde.
                        É também um lugar para todos os bolsos, tem desde as famigeradas “a partir de R$ 1,99” (atire a primeira pedra quem nunca entrou numa) até as grifes mais descoladas; dos MacDonald’s da vida aos restaurantes mais sofisticados.
                        No quesito culinária você tem um leque de opções, sendo que a predominância, como não poderia deixar de ser, é de frutos do mar. Infelizmente não tive tempo para degustar todos os cardápios, mas dos que eu conheci, alguns eu recomendo sem medo de errar. Um deles é a lagosta grelhada (na casca) do Brigitta’s (lugar aconchegante, com vista para o mar e um atendimento de primeira), que acompanhada de um espumante ou um vinho branco faz a festa do nosso paladar. No Bananaland você vai encontrar um Buffet com algumas receitas da alta gastronomia. No dia em que lá estive fui premiado com uma “musseline de batata baroa com gorgonzola” acompanhada de “filet mignon ao molho rôti”. Premiado no sentido literal mesmo, porque este prato foi o vencedor do Degusta Búzios, festival gastronômico que acontece todo ano na cidade (o próximo eu não perco!). Como o equilíbrio é necessário em todos os sentidos da nossa existência, entre uma extravagância e outra, podemos nos redimir no Samsara, um restaurante vegetariano onde eu sempre comia mais do que devia, simplesmente porque não há como resistir. O restaurante (tranqüilo e acolhedor) é no piso superior e no piso inferior está a loja – um pedacinho do Nepal, do Tibet e da Índia. Mesmo que você não seja um aficionado pelo Oriente tenho certeza de que encontrará algum produto que lhe será agradável. Reserve, no mínimo, uns 30 minutos para conhecer a loja e se deixe levar pelas descobertas. Por fim, para fechar o cardápio, você pode optar por uma cafeteria (com direito ao pecado da gula) ou por uma sorveteria – neste caso não deixe de conferir os sabores que a Alessa Gelateria oferece, alguns são verdadeiras obras de arte que deixam nossas papilas em estado de graça.
                        Para os baladeiros de plantão não faltam opções, tem bares com música ao vivo ou não e danceterias para todos os gostos, ou você pode simplesmente passear à noite pela cidade e pela orla, o movimento é intenso, com um público pra lá de eclético. Se, como eu, já adentrou na casa dos 40 e curte um bom Rock’n Roll não pode deixar de curtir os shows que a The House of Rock’n Roll apresenta, é o The Best de todas as décadas, de Beatles a Roy Orbison com a sua Pretty Woman, não ficando de fora Dire Straits e Santana, só pra citar alguns.
                        Geograficamente você pode conhecer a península de carro, buggy, bike ou escuna. Eu fiz a opção pela escuna (empresa Queen Lory que tem um excelente serviço) e pela bike. Se optar pela bike procure o Freedom (o Sr. Liberdade, como eu o chamo), ele irá lhe traçar o melhor trajeto conforme a sua intimidade com as bikes.
                        Como se vê o que não falta são opções para relaxar na Saint-Tropez brasileira, mas esteja atento a um detalhe muito importante: a melhor época é um pouco antes da alta temporada, porque tudo já estará funcionando e você não corre o risco de enfrentar o tumulto, congestionamentos, etc. comum a lugares turísticos muito disputados. Na alta temporada desconfio que você poderá não ter o seu merecido descanso e corre o risco de voltar ainda mais estressado. Boa Viagem.


Vídeo: Armação dos Búzios - RJ

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Mea Maxima Culpa


                        Dentre as minhas imperfeições (e são muitas) a mais grave é o relapso que tenho em relação aos meus amigos. Não que não goste deles, não só gosto como os tenho como a mais valiosa de todas as conquistas, no entanto, não sou muito dado a exteriorizar isso e o mais grave é que não os procuro com a freqüência que deveria. Embora os mais próximos e íntimos conheçam essa minha deficiência, fico mortificado de culpa quando percebo que, mais uma vez, fui relapso em relação a algum deles.
                        Amigo gosta de se sentir amado, lembrado, isso sempre faz bem e fortalece o carinho que temos uns pelos outros. E não há justificativa, nessa época de facilidades de comunicação, para que passemos meses sem sequer dar um “Olá, como você está?”. Até mesmo os famigerados scraps ou posts “passando pra deixar um abraço” já cumpriria em parte a missão. Mas nem isso eu faço, porque acho que já se tornou banal e sem nenhuma emoção e na, maioria das vezes, também não respondo os que recebo. Se for aqueles enviados para dúzias de pessoas e eu no meio, aí mesmo é que não dou crédito e ainda esbravejo contra o remetente porque ele não perdeu um minuto pra enviar só pra mim.
                        Sou assim, é inato e, embora eu não seja conformista, ou me esconda atrás do conformismo fazendo o tipo Gabriela – eu nasci assim, eu cresci assim e vou ser sempre assim – por mais que eu me prometa que vou melhorar, quando vejo já se passaram meses e eu me pego pensando em um deles e fazendo a tal cobrança mental: O fulano não dá sinal de vida a tempos! E eu? Dei algum sinal de vida pro fulano? Não! Nem sinal de fumaça eu fiz!
                        O ser humano é mesmo um bicho estranho. Somos carentes por natureza, por mais que ostentemos a pose de auto-suficientes, basta o carinho de um amigo e a gente se derrete todo, mesmo que seja interiormente, pra não perder a pose. Sim, tem aqueles que se faz de importante, te olhando de cima pra baixo com um sorriso amarelo, mas se é amigo você conhece bem e já percebe que ele não está em um bom dia e nem dá bola pra isso, porque sabe que daí a pouco essa pose se desmancha e ele volta à normalidade.
                        Este Mea Culpa é pra dizer a todos vocês, meus amigos, que sim, eu os amo, vocês são importantes para mim e eu me mortifico terrivelmente por ser relapso com vocês. Podemos ficar muito tempo sem nos vermos, ou nos falarmos, mas os meus braços estarão sempre abertos para o carinhoso e caloroso abraço. O ombro sempre disponível para aquelas horas difíceis. O sorriso sempre pronto para comemorarmos as alegrias, ou simplesmente para rirmos um do outro, ou rirmos da vida, para vida, sem nenhum motivo aparente, porque sabemos que só o fato de vivermos mais um dia já é motivo de alegria, mesmo que seja um dia de cão. Parafraseando Quintana, “ele passará e nós, passarinhos!”
                        Sou avesso a algumas convenções, as considero sem sentido, vendo como único sentido o comércio que se esconde por trás delas, como os famigerados “dia de não sem quem ou o que” (Marlise, é impossível deixar de pensar em você nessas horas, pela comunhão de pensamentos).
                        Aniversários então, esqueço todos, até o meu se não fossem as cobranças pela comemoração. Já nem coloco a data nos faces da vida para evitar a culpa que sentirei ao lembrar que não dei as felicitações para esse ou aquele amigo que me felicitou por esse novo meio de comunicação. E convenhamos, é o tipo de felicitação que não muda em nada de um ano para o outro. Fico sempre achando que estou sendo repetitivo e quebrando a cabeça para escrever algo diferente, mas não adianta, essa regra não comporta exceções. Então considerem tudo o que eu já disse em aniversários passados e sintam-se cumprimentados, mesmo que eu me esqueça de fazer isso.
                        Este Mea Culpa é também por isso, para me redimir de todos os aniversários que não lhe felicitei, todos os “feliz dia de qualquer coisa” que não lhe dei, pelas muitas vezes que pensei em você e você nem ficou sabendo, pelas tantas vezes que desejei a sua presença porque o momento era “a sua cara”, mas que me esqueci depois de até mesmo comentar o evento, pelas inúmeras vezes que você me telefonou e fiquei de retornar a ligação e não liguei. Reconheço, sou desligado, sou relapso, estou tentando melhorar, mas saiba que você é importante para mim, mesmo que eu não diga isso com a freqüência que você gostaria de ouvir. Estou dizendo agora, registre, porque posso me esquecer de repetir no nosso próximo encontro.


Vídeo: Amigos


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Gaúcho de Outros Pagos

                        Jantar na sexta-feira no Al Nur[1], degustando um cálice de Cabernet Sauvignon da Casa Valduga[2]. Almoçar no sábado no Ocidente[3], almoço regado a lassi de frutas vermelhas ou suco de uva e depois ir tomar um café expresso acompanhado de cheese cake de amora no Coletânea Café[4]. No Sábado à noite receber os amigos, o cardápio varia conforme o clima, mas o espumante não pode faltar. No domingo almoçar no Suprem[5], regado a suco de banana com gengibre, ou acordar as 7:00h (isso pra mim é madrugada, sou como o Garfield: odeio acordar cedo) para ir passar o dia em Gramado.
                        Estou em casa. Estou em Porto Alegre. São essas pequenas coisas, que nos dão imenso prazer e das quais sentimos falta quando passamos muito tempo longe, que nos dão a certeza de amarmos o que definimos como “terrinha”, “nosso lugar no mundo”, “nossas raízes”, etc. Sim, sou mais um gaúcho que ama a sua terra, suas tradições, suas raízes, com muito orgulho e que se emociona só em falar, pensar ou escrever sobre elas (assim como estou emocionado neste momento). E olha que sou de outros pagos, mas tenho certeza de que em outra vida vivi por aqui e é por aqui gostaria de estar nas seguintes.
                        Alguém, que não me lembro quem, já disse algo como “o lugar onde a pessoa nasce nem sempre é o lugar a que ela pertence”. É o meu caso: pertenço ao Rio Grande do Sul. Não fui eu quem adotou o Estado, foi ele quem me adotou e Porto Alegre foi a cidade que me acolheu. Sou filho da década perdida e, como tal e como muitos, tive que buscar o meu lugar no mundo. Cheguei em Porto Alegre no final dos anos 80 e, embora cronologicamente não faça tanto tempo, emocionalmente já foi o tempo suficiente para se ter a certeza de que este é o meu lugar.
                        Nasci em Lutécia[6], uma pequena cidade do interior do Estado de São Paulo. Com três meses de idade a família toda (incluindo, tios e avós) migrou para o interior do Paraná e foi lá, em uma cidadezinha do oeste paranaense de nome Mariluz[7], que vivi até consumar o, na época, desejo de vir para Porto Alegre. Aqui chegando descobri que não era apenas um desejo, não era apenas uma experiência passageira como são todos os desejos, era um sentimento bem mais sólido, era o sentimento de ser gaúcho, este sentimento que só quem é gaúcho de alma e coração sabe sentir e que não há como definir em palavras, embora muitos, assim como eu agora, tenham já tentado.
                        Aos desavisados é sempre bom lembrar que por aqui nem tudo se resume a chimarrão e churrasco. Com exceção de Gramado/Canela que são cidades turísticas, por não termos o turismo como fonte de renda, o visitante sempre encontrará por aqui uma excelente prestação de serviços, produtos de qualidade e uma hospitalidade ímpar, além da cultura (leia-se educação) gaúcha que faz com que os que por aqui passem sempre retornem. Faço essas considerações em relação ao turismo porque percebo que as cidades (no Brasil) eminentemente focadas no turismo, em sua grande maioria, não prezam por uma boa prestação de serviços porque, erroneamente, seguem a linha de raciocínio de que independentemente disso, haverá sempre novos visitantes. O que eles não se dão conta é de que os que já vieram não retornarão.
                        A estas alturas, depois de já ter escancarado, despudoradamente, o meu amor por esta terra, você deve estar pensando que eu sou suspeito para dizer isso, você tem razão, sou mesmo. Então o melhor é você vir nos fazer uma visita e conferir. Depois me conta, estamos sempre abertos às críticas, para cada vez mais e sempre recebê-lo melhor.


Vídeo: Porto Alegre
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[1] Restaurante - Cozinha Árabe
[2] Vinícola – http://www.casavalduga.com.br/
[3] Restaurante – Cozinha Vegetariana
[4] Cafeteria
[5] Restaurante - Cozinha Indiana - http://restaurantesuprem.blogspot.com

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cidade (não tão) Maravilhosa


                        Sem nenhuma sombra de dúvidas, a natureza foi estupendamente generosa com o Rio de Janeiro. O que está fora do contexto, como diria a impagável Odete Roitman, “é esse povinho tupiniquim que aqui habita”.
                        Toda regra comporta exceções e, por conta disso, aqui eu me redimo para com as raras exceções que se encontra nessa Cidade que não é assim tão Maravilhosa quanto se apregoa.
                        É fato que: são os habitantes de um lugar que fazem esse lugar ser o que é e lhe conferem as impressões que temos dele. No Rio, se você prestar atenção nisso, desviando os olhos das belezas naturais, verá que muito pouco de bom terá para lembrar.
                        Sendo uma cidade cuja economia advém principalmente do turismo, seria natural que oferecesse uma boa prestação de serviços aos turistas. Infelizmente não é o que acontece, contrariamente, o que é oferecido, de fato, é um desserviço. Bom serviço no Rio é uma preciosidade que deve ser cultuada e guardada a sete chaves, se e quando você encontrar. Se for por um preço justo então, aí sim, você deve erguer as mãos para o céu, no melhor estilo Padre Marcelo Rossi, e dar graças, louvar, entoar cantos e até se ajoelhar.
                        Se você conhece mesmo a cidade sabe do que eu estou falando. Se não conhece, venha conhecer, vale a pena, a cidade é mesmo linda, maravilhosa. Mas não espere encontrar aqui o serviço e a hospitalidade a que pode estar acostumado. O seu rico dinheirinho é muito bem vindo, você não! Cariocas não gostam de turistas. E pelas observações que tenho feito, tenho me convencido de que não gostam nem deles mesmos. Não vejo outra explicação para o descaso como as pessoas se tratam nessa cidade. Já não me refiro só aos turistas, mas a todos que vivem aqui, de um modo geral.
                        Estudando o comportamento do povo percebi porque eles evacuam a cidade na primeira oportunidade: eles querem distância dos turistas que por aqui passam. Em feriados e feriadões, quando há um grande movimento de turistas, eles saem da cidade (exceto, obviamente, os que precisam trabalhar). E por falar em trabalhar, tai uma coisa que eles não gostam!
                        Quer ver um carioca feliz? Leve ele para um bar, um boteco, uma roda de samba ou de pagode, regado a muita cerveja ou chopp. Ele será o seu melhor amigo. Quer arranjar um inimigo? Dê a ele um trabalho para executar e peça-lhe rapidez e que seja bem feito. Nem uma, nem outra coisa acontecerá. Se o trabalho for feito no dobro do tempo e estiver razoável dê-se por satisfeito ou faça você mesmo. É assim que funciona e não adianta você se estressar, porque só você é quem vai sofrer com isso e por isso, eles não estão nem aí.
                        Estou me referindo aqui ao Rio no seu cotidiano, não ao Rio que você vem em férias ou num rápido passeio, para curtir as praias e conhecer os pontos turísticos. Se bem que, mesmo em ocasiões como essa, se você não estiver extasiado com a beleza da cidade, que é extasiante mesmo, se dará conta de que não está sendo bem recebido.
                        O serviço de transporte é degradante. Alugue um carro e prepare-se para se aventurar e viver perigosamente no trânsito. Evite os taxis, eles não estão aqui para lhe levar para onde você quer ir. Podem lhe levar sim, se você for na mesma direção em que o taxista quer ir. É inacreditável, mas é assim que funciona. Quando você aborda o taxi, o taxista já pergunta pra onde você quer ir, não na intenção de levá-lo, mas para se certificar de que é para a mesma direção que ele quer ir ou está indo. Se o trajeto não agradar a ele, ele vai lhe dizer, descaradamente, que está indo para outro lugar. E você que se vire.
                        Se você pegar um taxi em movimento e pedir ao taxista pra ele retornar, ele vai parar e fazer você descer. E se dê por satisfeito se ele fizer isso com certa gentileza porque, normalmente, é com prepotência. Prepotência, aliás, é a forma de tratamento universal por aqui. Esteja preparado para isso.
                        Serviços em bares e restaurantes também são um capítulo a parte. Esteja pronto para freqüentar os mais caros se você quiser uma certa qualidade no serviço de atendimento. Quando digo os mais caros, que fique bem claro, isso não significa que sejam os melhores.
                        Para que eu não fique aqui discorrendo sobre o aspecto de cada um dos serviços que você vai precisar, tenha em mente o seguinte: você é invisível. Isso mesmo, você não será visto por onde passar. Você vai chegar nos lugares e ninguém virá lhe atender, solicitamente, como você pode estar acostumado. Primeiro os funcionários da casa dão prioridade para o que eles estão fazendo, não para os clientes. Mesmo que o que estejam fazendo seja conversar entre eles. Primeiro eles vão terminar o assunto, depois um deles virá lhe atender. E não ouse interrompê-los, porque aí sim, você será tratado de forma bem mais prepotente.
                        Lembre-se sempre: você não é importante para ninguém aqui. Não devia nem ter vindo. E se não quiser voltar mais não vai fazer a mínima diferença. Sabe por quê? Porque no seu lugar virão três, cinco, dez outros turistas, ou seja, você é só mais um e não faz a mínima falta.
                        Uma boa dica é freqüentar as lojas das grandes redes de fora do Rio, onde os funcionários são treinados e o atendimento é padrão. Você não vai sentir nenhuma diferença, como se estivesse em qualquer outra grande capital. Nem vai se dar conta de que está no Rio. Infelizmente isso não é possível para tudo, então, esteja preparado para ser mal atendido em muitas das suas necessidades.
                        Contudo e apesar de tudo, sempre vale a pena uma temporada por aqui. É só abstrair, transcender esses pontos negativos e se concentrar no que a cidade oferece de bom: uma beleza estonteante, uma vida cultural intensa e uma diversidade ímpar, com gente de todos os cantos do mundo.
                        O problema maior é ter que viver aqui, viver o cotidiano da cidade, o dia-a-dia, aí o jeito é, em certo aspecto, agir como a maioria dos cariocas e, surgindo a oportunidade, fugir do Rio pelo maior tempo possível e deixá-lo entregue aos turistas!
                        Seja Bem Vindo!

sábado, 14 de maio de 2011

A Dor do Adeus

                        Ao longo da nossa vida vamos perdendo coisas e dando adeus a entes queridos. Prefiro colocar assim: o que perdemos são coisas, aos entes queridos damos adeus. Gosto do adeus porque, por mais que doa, fica uma tênue esperança de um reencontro um dia.
                        Andei catalogando os meus adeus. Lembro-me de que o primeiro foi ainda criança, ao meu vira-lata Bob. Foi quando experimentei, pela primeira vez, essa dor que não é física, que não dói em lugar algum, mas que nos deixa angustiado, com esse peso no peito, essa aflição no coração e esse sentimento de vazio.
                        Cheguei em casa (provavelmente vindo da escola) e recebi a triste notícia de que ele (o vira-lata) havia sido atropelado ao cruzar uma das ruas próximas de onde morávamos. Assim, de repente, sem aviso-prévio. E pela primeira vez experimentei esse vazio que o adeus de um ente querido (pra mim ele era humano) nos deixa.
                        Depois, já adulto, foi a vez de dar adeus a única avó que conheci. E novamente os mesmos sentimentos, com a mesma intensidade, como se nunca os tivesse sentido.
                        Alguns anos depois o adeus foi para minha mãe, meses depois, ao meu pai, que não resistiu ficar sozinho e foi se juntar a ela (ou não).
                        E assim, no decorrer do tempo, vamos dando esses adeus que nunca são fáceis. Por mais que passemos por estas experiências, essas horas de agonia são sempre intensas e desesperadoras.
                        Quando este momento chega de surpresa então, é pior ainda, ficamos pateticamente anestesiados, momentaneamente perdidos, como se nos faltasse o chão.
                        Passei novamente por esse turbilhão, recentemente, ao dar adeus a um amigo querido. Ainda não me recuperei e me pego, frequentemente, me lembrando dele e dos muitos momentos que vivenciamos juntos, alguns bons, uns muito bons e outros nem tanto assim. Mas todos compuseram a nossa trajetória desde que os nossos caminhos se cruzaram e foram importantes no fortalecimento da nossa amizade.
                        E ele se foi assim, de repente, sem preparar ninguém pra isso. Bem ao estilo dele, até nessa hora! Vamos combinar que não precisava ter sido assim... nem agora!
                        Teve uma trajetória aqui curta e grandiosa. Eu o admirava por muitas coisas, mas principalmente por isso, por ser tão jovem e já ter uma vivência tão grande. Tinha lá os seus defeitos, mas quem não os tem? Era, às vezes, ranzinza, resmungão, mal humorado, parecia um velho. Hoje tenho a convicção de que o seu espírito é mais vivido do que a idade cronológica dele, por isso a sua estada conosco foi tão breve, ele já estava pronto, desde sempre, para nos deixar logo. Por isso realizou tanto em tão pouco tempo. Por isso conquistou tantos, pelos cantos do mundo por onde passou.
                        Por conta da profissão, levou alegria a muitos. Proporcionou momentos perfeitos, que ficarão para sempre na memória daqueles que os vivenciaram.
                        Era perfeccionista, exigente, competente, “não era fraco não”! E isso o fez o que foi e é o que o fará sempre lembrado, sempre vivo em nossas memórias.
                        Nessas horas de pesar, sentimos saudades até daqueles momentos em que ele beirava o insuportável com o seu mau humor! O que dizer então dos bons momentos vividos? Das noites de festas e de trabalho também! Porque, às vezes, uníamos o útil ao agradável e fazíamos das horas de árduo trabalho momentos de diversão! Ele era, regra geral, alegre, divertido, cômico, com o seu jeito único de ser, onde as regras, na maioria das vezes, eram as que ele criava!
                        Creio que agora você está com os seus, que lhe deram adeus antes, nesta nova dimensão. É isso o que tem me confortado. Creio que você agora está bem, levando alegria onde quer que esteja e tenho certeza de que está em boa companhia.
                        O difícil para os pobres mortais que aqui ficaram, como eu, é ter que enfrentar este momento de adeus. Isso a gente não havia planejado. Jamais havia pensado nesta possibilidade. Jamais havia imaginado que estaria, como neste momento, te rendendo esta homenagem. E agora, digo eu: “Prá quem é tá muito bom!”
                        Então amigo, vou ficando por aqui e, num gesto de carinho, transcrevo o trecho de uma das muitas músicas que juntos ouvimos e que sei, era uma das suas preferidas. Já que teve que ser assim, que assim seja! Estaremos juntos novamente, espero, nesta nova dimensão onde você se encontra. Fique bem e como você mesmo dizia ao encerrar os nossos telefonemas: “Fica com Deus!”

*O fardo pesado que levas
Deságua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Feliz Dia de Hoje!

                        Tenho uma amiga que acha ridículos os cumprimentos na maioria das datas chamadas festivas. Eu concordo com ela, principalmente pelo caráter consumista que estas datas assumiram. As criaturas disparam o “Feliz Qualquer Coisa”, na maioria das vezes, sem ter a mínima idéia do que isso quer dizer.
                        Na semana que passou foi o Dia das Mães. Desculpem a minha falta de informação, mas não tenho a menor idéia de como surgiu essa data. Se alguém souber, por favor, me informe, porque me recuso a pesquisar esta cultura inútil.
                        Nestas ocasiões sempre me faço alguns questionamentos: o Dia das Mães, por exemplo, só será feliz para quem é mãe? E as mulheres que não são mães ainda, ou as que optaram por não ser nunca, ou as que, por algum motivo não puderam ser, devem se martirizar neste dia e passá-lo em franca infelicidade? E quem já não tem mais a sua mãe por perto, não terá direito a ser feliz neste dia? E os pais, devem esperar pelo seu dia para ter um dia feliz?
                        Na véspera deste dia festivo estive com uma mãe. Não a minha que, creio, esteja feliz em outra dimensão. Estive com uma mãe cujo filho (meu amigo) está internado em um hospital há alguns dias, com uma grave enfermidade. Ela, certamente, não teve um Feliz Dia de Mãe, porque neste dia, como em todos os outros, estava aguardando os poucos minutos que lhe são concedidos para poder ver o seu filho e ali, prostrada ao seu lado, sofrer com ele a sua dor, a sua agonia, a sua infelicidade.
                        Como poderia eu, diante disso, disparar a insana congratulação? Porque, creiam, enquanto eu estava com ela fomos interrompidos algumas vezes por pessoas ligando para o seu celular querendo notícias sobre o estado de saúde do filho e, pasmem, houve quem lhe disparou o incabível Feliz Dia das Mães! Daí eu me convencer de que as pessoas realmente agem como autômatos, sem a menor noção do que estão dizendo!
                        Passado o famigerado dia eu ainda ouvi, nas ruas, pessoas trocando a congratulação como se o dia tivesse se perpetrado no tempo! Aliás, isso acontece com muita freqüência: os sem noção que te desejam Feliz Natal Atrasado! Feliz Páscoa Atrasada! Assim mesmo, fazendo questão de reforçar o Atrasado!
                        Natal então é um martírio! Ninguém se interessa em saber qual é a sua religião, a sua crença e saem te empurrando goela abaixo os votos de um Feliz Natal. Se a pessoa não é cristã isso é uma ofensa!
                        Feliz Dia das Crianças! As crianças não precisam disso. Se bem me lembro, quando eu era criança eu era feliz todos os dias. Podia até não ter um ou outro momento no dia tão feliz, aqueles momentos que se sucediam às travessuras e o castigo vinha a galope, mas era questão de horas e tudo voltava ao normal novamente.
                        Sou da opinião de que um Bom Dia, acompanhado de um sorriso, de uma gentileza, é muito mais profícuo que esses cumprimentos jogados ao vento, às vezes gritados do outro lado da rua! E para isso não há que se esperar por aquele dia, que seja hoje, que sejam todos os dias. Feliz Dia de Hoje! Agora, porque daqui a segundos pode ser tarde demais.
                        Isso sem falar na histeria coletiva que precede esses dias em busca dos presentes. Sim, porque o dia só será feliz se houver presente material, presente espiritual não vale!
                        Nesses dias as pessoas só faltam se matarem nas lojas, estão mal humoradas, são grosseiras, mal educadas, tudo em prol do dia feliz que está por vir. Dependendo da situação (se você chega primeiro no objeto cobiçado) você é visto como o inimigo, aquele que quer levar a sua parcela de felicidade. No fatídico dia, essas mesmas pessoas, que você nunca viu na vida, se cruzam por você, te abrem um sorriso e disparam o cumprimento como se fossem amigos de infância!
                        Tenho a mais absoluta certeza de que a sua mãe ficaria muito mais feliz se você fosse almoçar com ela hoje e nem precisa levar presente. Ela vai ficar feliz pela sua presença, por esses momentos de afeto compartilhados sem compromisso.
                        O seu Deus (se você tem Um) ficará muito mais feliz se você se lembrar Dele agora. É isso que Ele espera de você: ser lembrado e cultuado todos os dias, no seu íntimo e exteriorizado diariamente na convivência que você tem com aqueles que te cercam.
                        A criança será muito mais feliz se você lhe der atenção na hora que ela precisa, se você lhe der amor e carinho no dia-a-dia. Isso fará dela uma criança feliz e um adulto mais humano.
                        Feliz Dia de Hoje! Hoje e todos os dias.

sábado, 30 de abril de 2011

Dias Nublados

                    Depois de praticamente um ano morando no Rio entendi, finalmente, porque “cariocas não gostam de dias nublados”. É que dias nublados é prenúncio de chuva e chuva, no Rio, é sinônimo de muito estrago.
                        Já havia acompanhado, pelo noticiário, os estragos de inundações anteriores como aconteceu, recentemente, na região serrana. Mas uma coisa é ver a enxurrada na telinha, outra é estar no meio dela (não literalmente). Desta vez fiz parte das estatísticas. Não sofri nenhum dano, porque encarapitado no 9º andar, não tinha como a água me levar. Mas protagonizei o dia seguinte e os que estão se sucedendo.
                        A chuva começou no início da noite e eu já estava em casa. Confesso que nem me dei conta de o quanto estava forte, se bem que, dadas as condições de esgoto, não é preciso muito para que algumas regiões alaguem facilmente, com qualquer chuva. Se um pouco intensa, então, é estrago na certa. Desta vez a região mais afetada foi a Praça da Bandeira, Maracanã e Tijuca. E a devastação foi total. Só percebi a gravidade da situação quando faltou energia e fui até a janela ver o que estava acontecendo. Tudo ao redor já era um mar de água e lama, já com alguns carros boiando. Em alguns lugares a água chegou a dois metros de altura.
                        Em razão do horário, funcionários que ainda estavam nas empresas tiveram que dormir ali mesmo. Algumas escolas também acharam mais seguro não liberarem os alunos e estes passaram a noite nas mesmas.
                        No dia seguinte a devastação era total. A lama e o lixo cobria toda a região e o simples ato de caminhar era uma aventura. As pessoas empenhadas na limpeza dos estabelecimentos, prédios, casas e calçadas estavam sombrias. O sentimento geral era de desolação e depressão. Os prejuízos incalculáveis. Boa parte da região sem energia, inclusive o prédio onde moro. Os nove andares que me separam da calçada foram vencidos pela escada.
                        No decorrer do dia, com a movimentação dos veículos que esquentavam as ruas, a lama dava lugar à poeira e os estabelecimentos sem movimento, a não ser o de empenho na limpeza, compunham um quadro que mais se assemelhava aos vilarejos do velho oeste retratados nos filmes de faroeste.
                        A região parou. Praticamente nada funcionava. O dia foi de limpeza e cálculos dos prejuízos. No início da noite a chuva ameaçou voltar e aí o cenário era de uma cidade fantasma. Muitos lugares continuavam ainda sem energia, inclusive o meu prédio. Desta vez os nove andares foram galgados sofregamente sob a luz de um isqueiro. E para desespero dos moradores não tínhamos mais água. Com a falta de energia não houve como reabastecer os reservatórios. Perambulei um pouco pela casa sob a luz de velas, comi o que achei na geladeira e fui dormir sem banho mesmo. Para um notívago, dormir as oito horas da noite é uma verdadeira tortura.
                        Agora, uma semana depois, o sentimento dos moradores é de raiva e de revolta com os governantes. E com toda a razão. Uma região que é cortada por três rios que deságuam no mar não deve ser tão difícil de ser devidamente canalizada. Já começaram as passeatas e protestos.
                        Mas agora tudo é Copa e Olimpíadas. Quero ver como vai ser se no período, se é que isso vai mesmo acontecer tendo em vista que as obras em todo o País estão atrasadas, houver uma enchente dessas. E com todo o respeito aos cariocas que foram prejudicados, tomara que haja!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Difícil Arte de Estrear à Luz de Velas


                        Quando decidi que iria fazer um blog de crônicas(?), - acho muita pretensão me intitular cronista, tanto que na crônica(?) anterior, a primeira, eu a nomeei de “escrita de estréia”, mas confesso que essa definição não me agrada e meio que fere os meus ouvidos – então, por puro convencionalismo, sem ter a pretensão de me intitular cronista, vou definir estes “escritos” como crônicas. Estamos combinados e não se fala mais nisso.
                        Pois bem, reativei o blog (criado inicialmente para uma confraternização e nunca mais usado) e pensei: moleza, entro, escrevo, publico e pronto: prático, rápido e indolor.
                        O que eu não imaginava era que isso iria me dar tanto trabalho! Primeiro porque eu não sou nenhum webdesigner (acho chique este termo, Betina Botox diria: Digno!) e em termos de informática, assim como 90% da humanidade, sou autodidata, então já tive um trabalhão para conseguir editar a tal crônica e fazer a sua postagem posterior.
                        Como se isso não bastasse, claro que eu já comecei escrevendo on line, direto no blog mesmo. Se a informática está aí para facilitar a nossa vida, pra quê ter trabalho fazendo rascunho, se podemos escrever, corrigir, editar, colar etc.?
                        E assim foi feito. Lá pelas tantas, quando já estava no meio do texto, faltou energia no bairro. O Rio tem esse problema (além de muitos outros), quando a chuva é anunciada na previsão do tempo, no Jornal Nacional, já falta energia em alguma parte da cidade!
                        E justo neste dia chovia e muito! A Tijuca e redondezas já estavam embaixo d’água. Como sou do Sul e adoro dias chuvosos, achei perfeito para escrever e me empolguei.
                        A temperatura havia caído, o clima estava agradável naturalmente, sem o split ligado. Era ir pra frente do note e mandar ver!
                        Faltou luz mas a bateria do note estava 100% carregada, eu já estava no meio do texto, daria tempo, tranquilamente, de terminá-lo e postá-lo antes da bateria ir por beleléu.
                        Acendi velas e no melhor estilo bucólico fiquei ali, feliz, entre a luz amarelada das chamas das velas e a luz azulada da tela. Notei o avisinho em vermelho fora da caixa de texto: “não foi possível salvar o trabalho”. Nem dei bola, vou finalizar o texto, salvá-lo e tudo bem.
                        Continuei escrevendo e a bateria abaixando o nível de carregamento... e o avisinho lá, se renovando e querendo me irritar dizendo que “não foi possível salvar o trabalho”.
                        Finalizei o texto no último suspiro da bateria e pressionei rapidamente “salvar”. Nada aconteceu. Comecei a me desesperar, quem já passou por isso e todos já passaram, sabe o desespero que bate quando não conseguimos salvar um trabalho já finalizado. Só o pensamento de ter que digitar tudo de novo já nos deixa em pânico.
                        Fui para o “visualizar” para ver como ficaria o texto publicado, já decidido a publicá-lo assim mesmo e quando a energia voltasse, provavelmente no outro dia, eu editaria, arrumaria etc. Pressionei o “visualizar” e veio o novo aviso “não foi possível se conectar à internet” e uma página em branco ali na minha frente. Em meio ao pavor, me dei conta de que sem energia o wireless não funciona e como eu estava escrevendo on line, direto no blog, corria o sério risco de não conseguir salvar parte do trabalho.
                        Desespero total, minha vida por um modem, tateando as gavetas no escuro. Achei! Graças a Deus! Conectei na rapidez da luz, já rezando, fazendo promessa pra tudo dar certo. A adrenalina a mil. Aparece o texto publicado - só os três primeiros parágrafos...
                        Fiquei ali imóvel, paralisado, olhando para aqueles três míseros parágrafos iniciais. Não acredito, pensei, três parágrafos! E tinha ficado tão bonitinho...
                        Respirei fundo, fazer o quê? Teria que reescrever tudo de novo, quando voltasse a energia, porque a bateria pifou de vez, a luz azulada se foi e o que restou foi só a luz amarelada das chamas das velas. E isso só seria possível, certamente, no outro dia e se parasse de chover, porque a estas alturas, a água lá fora já estava há muito tempo invadindo os prédios. Mesmo que a light tivesse a intenção de me ajudar, isso só seria possível com um transatlântico cruzando as ruas e avenidas da Tijuca.
                        Mas o texto estava ali, fresquinho na memória, cada palavra. Esperar até o dia seguinte já seria outro texto, não iria conseguir reproduzir o mesmo. Isso sem dizer que eu não estava com o menor sono. Mais uma noite de insônia? E no escuro? Sem sequer poder ver o Jô?
                        Não, vou reescrever tudo agora, à mão, como eu fazia no tempo do primário e à luz de velas mesmo – naquela época eram lamparinas, alimentadas por querosene (ainda consigo me lembrar, claramente, do cheiro enjoado que exalava).
                        E assim foi feito, reabasteci o estoque de velas na mesa, acendi mais uma para dar mais claridade e, com toda a calma, voltei ao tempo em que fazia as “tarefas escolares” – “deveres de casa” em algumas regiões – sob a luz fraca e trêmula das lamparinas alimentadas por querosene.
                        Reescrevi tudo, li, reli, fiquei satisfeito com o dever cumprido. Mas aprendi, direto no blog, on line, nunca mais. A partir de agora e sempre, primeiro no Word, depois editar, colar, visualizar e só então publicar.
                        Valeu a sessão saudosismo, mas uma noite já foi mais que suficiente!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Martha Medeiros e Julie & Julia

                        Nem sempre conseguimos nos livrar de alguns acontecimentos desagradáveis e isso, às vezes, acaba nos proporcionando uma bela noite de insônia! Ainda mais se você é notívago, como eu, aí então é inevitável.
                        Em uma dessas noites, depois de rolar um pouco pela cama, ouvir música (isso me ajuda a dormir) e atacar a geladeira, desisti do sono e fui rever o filme Julie & Julia. Terminado o filme voltei para o ritual do sono e nada dele aparecer. Acho que esta noite, definitivamente, Morfeu estava de férias.
                        Resolvi buscar outra companhia e a escolhida foi Martha Medeiros, pela qual tenho uma grande admiração e companheira já de longa data - ainda da época da coluna dominical do jornal Zero Hora, quando nossos encontros se davam sempre nas tardes de sábados quando o jornal era entregue. Entre uma crônica e outra me lembrei de uma frase que um amigo (muito especial) disse um dia em uma conversa: que em razão do trabalho básico que ele estava realizando naquele período ele estava ‘emburrecendo’.
                        Ocorreu-me que isto estava acontecendo comigo. Depois de alguns anos exercendo a advocacia, optei pela estabilidade de um emprego. Não que o trabalho atual seja básico, é bem estressante até, mas me proporciona mais tempo livre (prezo pela minha qualidade de vida) porque, após sair da empresa me desligo do trabalho e tenho mais tempo livre, sem a preocupação do prazo daquele Recurso de Apelação para o qual eu nem comecei ainda a pesquisar a Jurisprudência pertinente.
                        Conclui que eu precisava fazer algo que fosse estimulante e que me desse prazer. Então, como a personagem de Amy Adams, no file Julie & Julia, pensei em fazer um blog. Na verdade ele já estava iniciado, só teria que reativá-lo. Deparei-me, então, com o mesmo problema da personagem: um blog sobre o quê? Embora eu goste muito de cozinhar, isso não chega ao ponto de, como ela, ficar testando receitas para depois publicá-las. E também porque blogs de receitas é o que mais tem na internet. Eu mesmo quando quero fazer algo que não tenho a receita nos meus alfarrábios, vou lá, dou uma googada e voilà: é só conseguir os ingredientes e fazer as devidas alterações para que a receita fique mais ao seu gosto – acho que todo mundo que gosta de cozinhar faz isso, até hoje nunca conheci alguém que siga uma receita à risca, até porque muitas vezes, não dá certo – convidar os amigos e ter uma agradável noite saboreando o prato (de preferência acompanhado de um espumante) e jogando conversa fora.
                        Foi aí que me veio a inspiração: fazer um blog ao estilo Martha Medeiros, ou seja, de crônicas, sem a pretensão, é óbvio, de querer me igualar a ela.
                        Sempre gostei de escrever. Antes de me tornar advogado fiz Letras e, na época do 2º Grau (sim, sou desta época: 1º Grau, 2º Grau e Curso Superior) era rato de bibliotecas e devorava tudo que me caia nas mãos, de gibis aos vencedores do Nobel. Cheguei a ganhar um concurso de redação no colégio. Era convidado para redigir os discursos de formaturas e, depois, já cursando Letras, tive a fase dos Poemas, dos Sonetos (Vinícius de Moraes e Bruna Lombardi com o seu “O Perigo do Dragão” me renderam boas conquistas). Não só lia muita poesia como também me atrevia a escrevê-las, inspirando-me nos meus autores preferidos e os amigos, principalmente as amigas, que as liam, geralmente gostavam. Logo, não devo ter perdido o jeito, é só uma questão de recomeçar, agora com textos.
                        Também não teria a obrigatoriedade. Se estiver afim vou lá e escrevo, se não estiver, vou fazer outra coisa que me dê prazer. E hoje em dia, com as facilidades da internet ainda posso me divertir com os amigos convidando-os, pelo Orkut e Facebook, a darem uma passadinha pelo blog para deixarem suas impressões. Vai que eu dou sorte e viro filme! Bruna Surfistinha que o diga!
                        Quanto mais não fosse (opa, olha o advogado aí), na pior das hipóteses, vou estar fazendo algo, por diversão, que me dá prazer.
                        Pronto, está decidido e na escrita de estréia ainda posso, de quebra, homenagear a minha Diva das Crônicas. Minha velha e boa companhia das tardes de sábados, das noites insones e das esperas em aeroportos – quando o vôo tem conexão então, é perfeito, dá pra ler quase a metade de um livro, senão o livro todo, contando a(s) conexão(ões) e o trajeto.
                        Então, vida longa a Martha Medeiros e que ela continue estimulando e inspirando muitos outros à prazerosa arte de ler e/ou escrever!