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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cidade (não tão) Maravilhosa


                        Sem nenhuma sombra de dúvidas, a natureza foi estupendamente generosa com o Rio de Janeiro. O que está fora do contexto, como diria a impagável Odete Roitman, “é esse povinho tupiniquim que aqui habita”.
                        Toda regra comporta exceções e, por conta disso, aqui eu me redimo para com as raras exceções que se encontra nessa Cidade que não é assim tão Maravilhosa quanto se apregoa.
                        É fato que: são os habitantes de um lugar que fazem esse lugar ser o que é e lhe conferem as impressões que temos dele. No Rio, se você prestar atenção nisso, desviando os olhos das belezas naturais, verá que muito pouco de bom terá para lembrar.
                        Sendo uma cidade cuja economia advém principalmente do turismo, seria natural que oferecesse uma boa prestação de serviços aos turistas. Infelizmente não é o que acontece, contrariamente, o que é oferecido, de fato, é um desserviço. Bom serviço no Rio é uma preciosidade que deve ser cultuada e guardada a sete chaves, se e quando você encontrar. Se for por um preço justo então, aí sim, você deve erguer as mãos para o céu, no melhor estilo Padre Marcelo Rossi, e dar graças, louvar, entoar cantos e até se ajoelhar.
                        Se você conhece mesmo a cidade sabe do que eu estou falando. Se não conhece, venha conhecer, vale a pena, a cidade é mesmo linda, maravilhosa. Mas não espere encontrar aqui o serviço e a hospitalidade a que pode estar acostumado. O seu rico dinheirinho é muito bem vindo, você não! Cariocas não gostam de turistas. E pelas observações que tenho feito, tenho me convencido de que não gostam nem deles mesmos. Não vejo outra explicação para o descaso como as pessoas se tratam nessa cidade. Já não me refiro só aos turistas, mas a todos que vivem aqui, de um modo geral.
                        Estudando o comportamento do povo percebi porque eles evacuam a cidade na primeira oportunidade: eles querem distância dos turistas que por aqui passam. Em feriados e feriadões, quando há um grande movimento de turistas, eles saem da cidade (exceto, obviamente, os que precisam trabalhar). E por falar em trabalhar, tai uma coisa que eles não gostam!
                        Quer ver um carioca feliz? Leve ele para um bar, um boteco, uma roda de samba ou de pagode, regado a muita cerveja ou chopp. Ele será o seu melhor amigo. Quer arranjar um inimigo? Dê a ele um trabalho para executar e peça-lhe rapidez e que seja bem feito. Nem uma, nem outra coisa acontecerá. Se o trabalho for feito no dobro do tempo e estiver razoável dê-se por satisfeito ou faça você mesmo. É assim que funciona e não adianta você se estressar, porque só você é quem vai sofrer com isso e por isso, eles não estão nem aí.
                        Estou me referindo aqui ao Rio no seu cotidiano, não ao Rio que você vem em férias ou num rápido passeio, para curtir as praias e conhecer os pontos turísticos. Se bem que, mesmo em ocasiões como essa, se você não estiver extasiado com a beleza da cidade, que é extasiante mesmo, se dará conta de que não está sendo bem recebido.
                        O serviço de transporte é degradante. Alugue um carro e prepare-se para se aventurar e viver perigosamente no trânsito. Evite os taxis, eles não estão aqui para lhe levar para onde você quer ir. Podem lhe levar sim, se você for na mesma direção em que o taxista quer ir. É inacreditável, mas é assim que funciona. Quando você aborda o taxi, o taxista já pergunta pra onde você quer ir, não na intenção de levá-lo, mas para se certificar de que é para a mesma direção que ele quer ir ou está indo. Se o trajeto não agradar a ele, ele vai lhe dizer, descaradamente, que está indo para outro lugar. E você que se vire.
                        Se você pegar um taxi em movimento e pedir ao taxista pra ele retornar, ele vai parar e fazer você descer. E se dê por satisfeito se ele fizer isso com certa gentileza porque, normalmente, é com prepotência. Prepotência, aliás, é a forma de tratamento universal por aqui. Esteja preparado para isso.
                        Serviços em bares e restaurantes também são um capítulo a parte. Esteja pronto para freqüentar os mais caros se você quiser uma certa qualidade no serviço de atendimento. Quando digo os mais caros, que fique bem claro, isso não significa que sejam os melhores.
                        Para que eu não fique aqui discorrendo sobre o aspecto de cada um dos serviços que você vai precisar, tenha em mente o seguinte: você é invisível. Isso mesmo, você não será visto por onde passar. Você vai chegar nos lugares e ninguém virá lhe atender, solicitamente, como você pode estar acostumado. Primeiro os funcionários da casa dão prioridade para o que eles estão fazendo, não para os clientes. Mesmo que o que estejam fazendo seja conversar entre eles. Primeiro eles vão terminar o assunto, depois um deles virá lhe atender. E não ouse interrompê-los, porque aí sim, você será tratado de forma bem mais prepotente.
                        Lembre-se sempre: você não é importante para ninguém aqui. Não devia nem ter vindo. E se não quiser voltar mais não vai fazer a mínima diferença. Sabe por quê? Porque no seu lugar virão três, cinco, dez outros turistas, ou seja, você é só mais um e não faz a mínima falta.
                        Uma boa dica é freqüentar as lojas das grandes redes de fora do Rio, onde os funcionários são treinados e o atendimento é padrão. Você não vai sentir nenhuma diferença, como se estivesse em qualquer outra grande capital. Nem vai se dar conta de que está no Rio. Infelizmente isso não é possível para tudo, então, esteja preparado para ser mal atendido em muitas das suas necessidades.
                        Contudo e apesar de tudo, sempre vale a pena uma temporada por aqui. É só abstrair, transcender esses pontos negativos e se concentrar no que a cidade oferece de bom: uma beleza estonteante, uma vida cultural intensa e uma diversidade ímpar, com gente de todos os cantos do mundo.
                        O problema maior é ter que viver aqui, viver o cotidiano da cidade, o dia-a-dia, aí o jeito é, em certo aspecto, agir como a maioria dos cariocas e, surgindo a oportunidade, fugir do Rio pelo maior tempo possível e deixá-lo entregue aos turistas!
                        Seja Bem Vindo!

sábado, 14 de maio de 2011

A Dor do Adeus

                        Ao longo da nossa vida vamos perdendo coisas e dando adeus a entes queridos. Prefiro colocar assim: o que perdemos são coisas, aos entes queridos damos adeus. Gosto do adeus porque, por mais que doa, fica uma tênue esperança de um reencontro um dia.
                        Andei catalogando os meus adeus. Lembro-me de que o primeiro foi ainda criança, ao meu vira-lata Bob. Foi quando experimentei, pela primeira vez, essa dor que não é física, que não dói em lugar algum, mas que nos deixa angustiado, com esse peso no peito, essa aflição no coração e esse sentimento de vazio.
                        Cheguei em casa (provavelmente vindo da escola) e recebi a triste notícia de que ele (o vira-lata) havia sido atropelado ao cruzar uma das ruas próximas de onde morávamos. Assim, de repente, sem aviso-prévio. E pela primeira vez experimentei esse vazio que o adeus de um ente querido (pra mim ele era humano) nos deixa.
                        Depois, já adulto, foi a vez de dar adeus a única avó que conheci. E novamente os mesmos sentimentos, com a mesma intensidade, como se nunca os tivesse sentido.
                        Alguns anos depois o adeus foi para minha mãe, meses depois, ao meu pai, que não resistiu ficar sozinho e foi se juntar a ela (ou não).
                        E assim, no decorrer do tempo, vamos dando esses adeus que nunca são fáceis. Por mais que passemos por estas experiências, essas horas de agonia são sempre intensas e desesperadoras.
                        Quando este momento chega de surpresa então, é pior ainda, ficamos pateticamente anestesiados, momentaneamente perdidos, como se nos faltasse o chão.
                        Passei novamente por esse turbilhão, recentemente, ao dar adeus a um amigo querido. Ainda não me recuperei e me pego, frequentemente, me lembrando dele e dos muitos momentos que vivenciamos juntos, alguns bons, uns muito bons e outros nem tanto assim. Mas todos compuseram a nossa trajetória desde que os nossos caminhos se cruzaram e foram importantes no fortalecimento da nossa amizade.
                        E ele se foi assim, de repente, sem preparar ninguém pra isso. Bem ao estilo dele, até nessa hora! Vamos combinar que não precisava ter sido assim... nem agora!
                        Teve uma trajetória aqui curta e grandiosa. Eu o admirava por muitas coisas, mas principalmente por isso, por ser tão jovem e já ter uma vivência tão grande. Tinha lá os seus defeitos, mas quem não os tem? Era, às vezes, ranzinza, resmungão, mal humorado, parecia um velho. Hoje tenho a convicção de que o seu espírito é mais vivido do que a idade cronológica dele, por isso a sua estada conosco foi tão breve, ele já estava pronto, desde sempre, para nos deixar logo. Por isso realizou tanto em tão pouco tempo. Por isso conquistou tantos, pelos cantos do mundo por onde passou.
                        Por conta da profissão, levou alegria a muitos. Proporcionou momentos perfeitos, que ficarão para sempre na memória daqueles que os vivenciaram.
                        Era perfeccionista, exigente, competente, “não era fraco não”! E isso o fez o que foi e é o que o fará sempre lembrado, sempre vivo em nossas memórias.
                        Nessas horas de pesar, sentimos saudades até daqueles momentos em que ele beirava o insuportável com o seu mau humor! O que dizer então dos bons momentos vividos? Das noites de festas e de trabalho também! Porque, às vezes, uníamos o útil ao agradável e fazíamos das horas de árduo trabalho momentos de diversão! Ele era, regra geral, alegre, divertido, cômico, com o seu jeito único de ser, onde as regras, na maioria das vezes, eram as que ele criava!
                        Creio que agora você está com os seus, que lhe deram adeus antes, nesta nova dimensão. É isso o que tem me confortado. Creio que você agora está bem, levando alegria onde quer que esteja e tenho certeza de que está em boa companhia.
                        O difícil para os pobres mortais que aqui ficaram, como eu, é ter que enfrentar este momento de adeus. Isso a gente não havia planejado. Jamais havia pensado nesta possibilidade. Jamais havia imaginado que estaria, como neste momento, te rendendo esta homenagem. E agora, digo eu: “Prá quem é tá muito bom!”
                        Então amigo, vou ficando por aqui e, num gesto de carinho, transcrevo o trecho de uma das muitas músicas que juntos ouvimos e que sei, era uma das suas preferidas. Já que teve que ser assim, que assim seja! Estaremos juntos novamente, espero, nesta nova dimensão onde você se encontra. Fique bem e como você mesmo dizia ao encerrar os nossos telefonemas: “Fica com Deus!”

*O fardo pesado que levas
Deságua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Feliz Dia de Hoje!

                        Tenho uma amiga que acha ridículos os cumprimentos na maioria das datas chamadas festivas. Eu concordo com ela, principalmente pelo caráter consumista que estas datas assumiram. As criaturas disparam o “Feliz Qualquer Coisa”, na maioria das vezes, sem ter a mínima idéia do que isso quer dizer.
                        Na semana que passou foi o Dia das Mães. Desculpem a minha falta de informação, mas não tenho a menor idéia de como surgiu essa data. Se alguém souber, por favor, me informe, porque me recuso a pesquisar esta cultura inútil.
                        Nestas ocasiões sempre me faço alguns questionamentos: o Dia das Mães, por exemplo, só será feliz para quem é mãe? E as mulheres que não são mães ainda, ou as que optaram por não ser nunca, ou as que, por algum motivo não puderam ser, devem se martirizar neste dia e passá-lo em franca infelicidade? E quem já não tem mais a sua mãe por perto, não terá direito a ser feliz neste dia? E os pais, devem esperar pelo seu dia para ter um dia feliz?
                        Na véspera deste dia festivo estive com uma mãe. Não a minha que, creio, esteja feliz em outra dimensão. Estive com uma mãe cujo filho (meu amigo) está internado em um hospital há alguns dias, com uma grave enfermidade. Ela, certamente, não teve um Feliz Dia de Mãe, porque neste dia, como em todos os outros, estava aguardando os poucos minutos que lhe são concedidos para poder ver o seu filho e ali, prostrada ao seu lado, sofrer com ele a sua dor, a sua agonia, a sua infelicidade.
                        Como poderia eu, diante disso, disparar a insana congratulação? Porque, creiam, enquanto eu estava com ela fomos interrompidos algumas vezes por pessoas ligando para o seu celular querendo notícias sobre o estado de saúde do filho e, pasmem, houve quem lhe disparou o incabível Feliz Dia das Mães! Daí eu me convencer de que as pessoas realmente agem como autômatos, sem a menor noção do que estão dizendo!
                        Passado o famigerado dia eu ainda ouvi, nas ruas, pessoas trocando a congratulação como se o dia tivesse se perpetrado no tempo! Aliás, isso acontece com muita freqüência: os sem noção que te desejam Feliz Natal Atrasado! Feliz Páscoa Atrasada! Assim mesmo, fazendo questão de reforçar o Atrasado!
                        Natal então é um martírio! Ninguém se interessa em saber qual é a sua religião, a sua crença e saem te empurrando goela abaixo os votos de um Feliz Natal. Se a pessoa não é cristã isso é uma ofensa!
                        Feliz Dia das Crianças! As crianças não precisam disso. Se bem me lembro, quando eu era criança eu era feliz todos os dias. Podia até não ter um ou outro momento no dia tão feliz, aqueles momentos que se sucediam às travessuras e o castigo vinha a galope, mas era questão de horas e tudo voltava ao normal novamente.
                        Sou da opinião de que um Bom Dia, acompanhado de um sorriso, de uma gentileza, é muito mais profícuo que esses cumprimentos jogados ao vento, às vezes gritados do outro lado da rua! E para isso não há que se esperar por aquele dia, que seja hoje, que sejam todos os dias. Feliz Dia de Hoje! Agora, porque daqui a segundos pode ser tarde demais.
                        Isso sem falar na histeria coletiva que precede esses dias em busca dos presentes. Sim, porque o dia só será feliz se houver presente material, presente espiritual não vale!
                        Nesses dias as pessoas só faltam se matarem nas lojas, estão mal humoradas, são grosseiras, mal educadas, tudo em prol do dia feliz que está por vir. Dependendo da situação (se você chega primeiro no objeto cobiçado) você é visto como o inimigo, aquele que quer levar a sua parcela de felicidade. No fatídico dia, essas mesmas pessoas, que você nunca viu na vida, se cruzam por você, te abrem um sorriso e disparam o cumprimento como se fossem amigos de infância!
                        Tenho a mais absoluta certeza de que a sua mãe ficaria muito mais feliz se você fosse almoçar com ela hoje e nem precisa levar presente. Ela vai ficar feliz pela sua presença, por esses momentos de afeto compartilhados sem compromisso.
                        O seu Deus (se você tem Um) ficará muito mais feliz se você se lembrar Dele agora. É isso que Ele espera de você: ser lembrado e cultuado todos os dias, no seu íntimo e exteriorizado diariamente na convivência que você tem com aqueles que te cercam.
                        A criança será muito mais feliz se você lhe der atenção na hora que ela precisa, se você lhe der amor e carinho no dia-a-dia. Isso fará dela uma criança feliz e um adulto mais humano.
                        Feliz Dia de Hoje! Hoje e todos os dias.