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sábado, 14 de maio de 2011

A Dor do Adeus

                        Ao longo da nossa vida vamos perdendo coisas e dando adeus a entes queridos. Prefiro colocar assim: o que perdemos são coisas, aos entes queridos damos adeus. Gosto do adeus porque, por mais que doa, fica uma tênue esperança de um reencontro um dia.
                        Andei catalogando os meus adeus. Lembro-me de que o primeiro foi ainda criança, ao meu vira-lata Bob. Foi quando experimentei, pela primeira vez, essa dor que não é física, que não dói em lugar algum, mas que nos deixa angustiado, com esse peso no peito, essa aflição no coração e esse sentimento de vazio.
                        Cheguei em casa (provavelmente vindo da escola) e recebi a triste notícia de que ele (o vira-lata) havia sido atropelado ao cruzar uma das ruas próximas de onde morávamos. Assim, de repente, sem aviso-prévio. E pela primeira vez experimentei esse vazio que o adeus de um ente querido (pra mim ele era humano) nos deixa.
                        Depois, já adulto, foi a vez de dar adeus a única avó que conheci. E novamente os mesmos sentimentos, com a mesma intensidade, como se nunca os tivesse sentido.
                        Alguns anos depois o adeus foi para minha mãe, meses depois, ao meu pai, que não resistiu ficar sozinho e foi se juntar a ela (ou não).
                        E assim, no decorrer do tempo, vamos dando esses adeus que nunca são fáceis. Por mais que passemos por estas experiências, essas horas de agonia são sempre intensas e desesperadoras.
                        Quando este momento chega de surpresa então, é pior ainda, ficamos pateticamente anestesiados, momentaneamente perdidos, como se nos faltasse o chão.
                        Passei novamente por esse turbilhão, recentemente, ao dar adeus a um amigo querido. Ainda não me recuperei e me pego, frequentemente, me lembrando dele e dos muitos momentos que vivenciamos juntos, alguns bons, uns muito bons e outros nem tanto assim. Mas todos compuseram a nossa trajetória desde que os nossos caminhos se cruzaram e foram importantes no fortalecimento da nossa amizade.
                        E ele se foi assim, de repente, sem preparar ninguém pra isso. Bem ao estilo dele, até nessa hora! Vamos combinar que não precisava ter sido assim... nem agora!
                        Teve uma trajetória aqui curta e grandiosa. Eu o admirava por muitas coisas, mas principalmente por isso, por ser tão jovem e já ter uma vivência tão grande. Tinha lá os seus defeitos, mas quem não os tem? Era, às vezes, ranzinza, resmungão, mal humorado, parecia um velho. Hoje tenho a convicção de que o seu espírito é mais vivido do que a idade cronológica dele, por isso a sua estada conosco foi tão breve, ele já estava pronto, desde sempre, para nos deixar logo. Por isso realizou tanto em tão pouco tempo. Por isso conquistou tantos, pelos cantos do mundo por onde passou.
                        Por conta da profissão, levou alegria a muitos. Proporcionou momentos perfeitos, que ficarão para sempre na memória daqueles que os vivenciaram.
                        Era perfeccionista, exigente, competente, “não era fraco não”! E isso o fez o que foi e é o que o fará sempre lembrado, sempre vivo em nossas memórias.
                        Nessas horas de pesar, sentimos saudades até daqueles momentos em que ele beirava o insuportável com o seu mau humor! O que dizer então dos bons momentos vividos? Das noites de festas e de trabalho também! Porque, às vezes, uníamos o útil ao agradável e fazíamos das horas de árduo trabalho momentos de diversão! Ele era, regra geral, alegre, divertido, cômico, com o seu jeito único de ser, onde as regras, na maioria das vezes, eram as que ele criava!
                        Creio que agora você está com os seus, que lhe deram adeus antes, nesta nova dimensão. É isso o que tem me confortado. Creio que você agora está bem, levando alegria onde quer que esteja e tenho certeza de que está em boa companhia.
                        O difícil para os pobres mortais que aqui ficaram, como eu, é ter que enfrentar este momento de adeus. Isso a gente não havia planejado. Jamais havia pensado nesta possibilidade. Jamais havia imaginado que estaria, como neste momento, te rendendo esta homenagem. E agora, digo eu: “Prá quem é tá muito bom!”
                        Então amigo, vou ficando por aqui e, num gesto de carinho, transcrevo o trecho de uma das muitas músicas que juntos ouvimos e que sei, era uma das suas preferidas. Já que teve que ser assim, que assim seja! Estaremos juntos novamente, espero, nesta nova dimensão onde você se encontra. Fique bem e como você mesmo dizia ao encerrar os nossos telefonemas: “Fica com Deus!”

*O fardo pesado que levas
Deságua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim.

Um comentário:

  1. Não estava todos os dias com ele, mas Ricardinho (como o chamava) foi uma pessoa especial e muito me ajudou em um momento delicado sentimentalmente de minha vida. Fez-me rir, esquecer dos problemas. Ligava-me e perguntava: "...quem está do outro lado do aparelho..." e com essa frase já sabia de quem se tratava, ou seja, de um amigo que me deu colo e me amparou, ainda que da maneira dele "ranzinza", porém, esse era ele. Amigo, Ricardo, diversos foram os bons momentos, diversas foram tuas companhias no balcão do bar em toda a sexta feira, uno-me, as palavras do João e digo-te: Obrigado, vc foi importante e não foi por acaso que cruzou por nossas vidas. Fique com Deus!

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