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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Com o Dom e com a Manha


                        Dia de semana, 21h e eu entediado em casa. Pensei “vou pro Venezianos” e fui. Cheguei lá o bar estava ‘meia-boca’, mas isso não é problema porque o staff do bar faz você se sentir em casa e você se diverte da mesma forma, afinal o propósito é esse, se divertir (Valéria que o diga!), embora às vezes apareçam algumas criaturas ‘sem noção’ que tentam ‘melar’ a sua noite. Tudo bem, estamos sujeitos a chuvas e trovoadas, temos que estar preparados.
                        Entrei e cumprimentei a Clarice: - Oi Clarice, tudo bem?
                        - Tudo. Tudo certo e nada confirmado.
                        Clarice é debochada e divertida. Leva a sério o trabalho e o propósito do bar que é proporcionar diversão e se diverte também! Nos dias de pouco movimento eu gostava de ficar de papo com ela. Até rola uns assuntos sérios, se for o caso, mas vamos combinar que ninguém sai de casa entediado, para um bar, para discutir o futuro do planeta. Não rola. Melhor engolir um lexotan, um rivotril ou qualquer outro similar e ir dormir então.
                        A função e o local onde ela fica também propicia uma boa ‘trova’. Daquele cantinho tem-se uma visão geral do bar e com a vantagem dela conhecer a grande maioria dos clientes, afinal eu não era o único a ficar por ali. Assim como eu muitos faziam isso. E Clarice é perspicaz, sempre tem uma opinião formada sobre os mais conhecidos e quando rola um interesse você pode pedir a ‘ficha corrida da possível vítima’ que ela dá, com as suas observações pessoais e as pérolas que costuma largar. Teve uma noite que fiz isso, pedi a ficha corrida da possível vítima e ela deu, finalizando com a frase: - ...mas se eu fosse você não arriscaria, tem o dom mas não tem a manha.
                        E assim fui colecionando algumas de suas pérolas. Em um determinado final de ano eu e um amigo (saudades de você, Gordo!) decidimos que íamos fazer um Pré-Natal (calma, Pré-Natal foi o nome que demos a uma reunião de amigos com o fim de fazermos uma confraternização de final de ano e uma comemoração antecipada do Natal) e fizemos. E Clarice foi convidada, óbvio.
                        Para facilitar a comunicação entre os participantes do Pré-Natal eu resolvi criar um blog e assim, depois de uma noite em claro (até então nunca tinha me aventurado nessa ferramenta virtual) surgiu o blog do Pré-Natal com o nome Tudo Certo e Confirmado, uma descarada adaptação de uma das muitas pérolas de Clarice. Passou a festa, outras vieram e o blog era usado sempre para esta finalidade, ficando inativo pelo resto ano. Tempos depois, quando resolvi me aventurar a escrever mais, aproveitei o blog já criado e apenas mudei o nome fazendo uso, claro, de outra pérola de Clarice, que é o nome que permanece até o presente.
                        Foi assim que surgiu o Com o Dom e Com a Manha – respondendo a todos que já me perguntaram o porquê deste nome para o blog.
                        Clarice, esta crônica é uma homenagem a você, ao seu bom humor e às suas tiradas bem humoradas e inteligentes e a todo o staff do Venezianos que não mede esforços para nos proporcionar diversão. Qualquer dia desses, estando por aí, apareço para rirmos um pouco, nem que seja de nós mesmos!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Ópio do Povo


                        A uma semana do Carnaval eu vou falar de Fé. Nada contra a festa pagã, acho um feriadão ótimo pra descansar, ou não, dependendo do estado de espírito. Já tive vários tipos de Carnaval, inclusive um que passei todos os dias em casa, vendo os desfiles pela TV (todas as escolas, de todas as transmissões) e dormindo o dia todo. Tem gosto pra tudo, vai entender o ser humano, vai entender a si próprio. Sou assim, procuro fazer só o que estou afim (embora isso nem sempre seja possível, infelizmente).
                        Resolvi falar de Fé porque não tenho nada a dizer sobre o Carnaval, ainda. Talvez eu escreva alguma coisa sobre ele depois que passar, porque me programei para ter um bastante divertido este ano. Pessoal da Casa da Lua, em Floripa, se cuidem, vocês podem ser destaque aqui na próxima crônica, e eu falo mesmo! E se der vontade de falar do Carnaval no Natal é assim que vai ser. Essa é a proposta, escrever por prazer e sobre o que der na telha. Isso tem gosto de liberdade e não tem preço (credit card, não vivo sem!). Nas minhas palavras mando eu!
                        Mas vamos deixar isso pra depois e vamos ao tema proposto: Fé. É o que tem pra hoje!
                        Descobri que para os incrédulos nenhuma explicação é satisfatória e para os que têm fé não é preciso nenhuma explicação. Li isso, ou alguma coisa mais ou assim, em algum lugar e depois de refletir um pouco passei para a ação, ou seja, parei de questionar tanto os crentes (entenda-se os que crêem) e passei a cultivar e cultuar a minha fé. E não é que tem dado certo!
                        Para se falar de fé não há como não se falar de religião. É pela religião que praticamos a nossa fé e quer você queira ou não, você é adepto de alguma. Quando me refiro a religião aqui me refiro a qualquer manifestação de crença, seja ela reconhecida como religião, seita, culto, filosofia ou o nome que você queira dar. Estou me referindo à religião na forma mais genérica que o termo possa ter, ou seja, o meio, qualquer meio, pelo qual se pratica a fé. Li em uma tese tendo como foco a religião que “não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana”*.
                        O mesmo trabalho nos lembra que “grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.”
                        “Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteviram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais”.
                        Tenho convicção de que há três motivos pelos quais as pessoas procuram uma religião: por amor, por necessidade e por vaidade. O motivo, obviamente, trará conseqüências na fé e no seu crescimento espiritual.
                        O motivo mais freqüente é a necessidade, porque o ser humano nos momentos de desespero busca o conforto na religião. Nessas horas precisamos de Algo Maior em que nos apegar e, em muitos casos, é nessas horas que a fé é despertada.
                        A tese antes citada afirma que é da natureza do fenômeno religioso oferecer saídas à angústias fundamentais do Ser Humano independente do contexto cultural."
                        Alguns seguem cultuando a sua devoção. A maioria, no entanto, passado o sufoco, agradecem no momento e, com o passar do tempo, se distanciam novamente da religião só se lembrando dela novamente quando em outro momento de agonia. São os crentes de ocasião, só tem fé quando precisam.
                        Em outra categoria estão os ‘religiosos show’, que são aqueles que usam a religião por vaidade, querem ser notados, querem os palcos, querem platéia e divulgam a sua religião como sendo a certa, a correta e a que todos devem respeitar e seguir. Normalmente procuram usar a religião para tirar alguma vantagem dos demais. São os vendedores de fé. A sua religião tem um preço e tem muita gente desinformada que paga. Nesse nicho quanto mais ignorante (no sendo de não ter conhecimento) melhor para a religião, pois são mais fáceis de ser manipulados.
                        O terceiro motivo é o amor, quando a religião é praticada visando unicamente a servir o próximo, onde a caridade é o mandamento maior. Nesse nicho estão todos aqueles que acreditam que a religião é o sustentáculo da vida espiritual e que sabem que estão aqui de passagem, que dentre outras missões uma delas é dar a sua parcela de contribuição para ajudar os que precisam. Nesta categoria de fiéis é onde encontramos uma diversidade maior entre os seus praticantes, desde os mais cultos até os menos informados, dos mais abastados aos menos favorecidos e na religião todos se igualam pois são nivelados pelo sentimento que os une: o amor.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

MÚSICA


                        Vou acender estrelas só pra te receber e anéis de saturno pra fazer bambolê. Marcelo Jeneci produziu um disco ótimo. Letras inteligentes e poéticas e arranjos bem elaborados. Talvez você não saiba de quem eu estou falando e eu não lhe culpo, ele não está na mídia, não é apadrinhado por ninguém influente da Rede Globo e suas canções não estão em comercial de carros, ou qualquer comercial. Suas músicas não têm coreografias com referências explicitamente sexuais e por isso não são dançadas nas comemorações de gols dos jogadores festejados no momento. Ainda bem. Eu ficaria bastante decepcionado se isso acontecesse, porque ele tem cérebro, tem cultura, tem formação musical e é um poeta. Se a mídia reconhecesse isso seria ótimo, mas como a mídia prefere e precisa da linguagem dos que não pensam, ele continua fazendo sucesso em círculos restritos, sem muita divulgação.
                        Não caiu nas graças do Roberto como Paula Fernandes, nem teve um amigo que levasse Caetano pra assistir a um show seu, como aconteceu com Maria Gadú.
                        Talento no nosso país depende mais de sorte que de cultura e leva muito tempo para ser reconhecido, principalmente nos dias atuais onde o que se destaca mesmo é a banalidade fast food de consumo imediato e sem conteúdo. É até mesmo provável que ele tenha que primeiro fazer sucesso na Europa para só depois ser reconhecido aqui como um grande talento. Foi assim no passado e no presente não mudou muito.
                        Estou falando do Jeneci por ser um dos que descobri recentemente, mas tenho certeza de que existem muitos outros talentos escondidos por aí, fazendo pequenos shows em bares noturnos e cidades interioranas. E mesmo que eles venham a ser vistos nacionalmente um dia, será difícil fazer a sua arte e o seu talento ser devidamente reconhecidos porque as cabeças pensantes do nosso país ainda são uma minoria. Não temos na nossa formação as informações culturais que deveriam ser transmitidas desde o nosso tempo de crianças. Contrariamente, as crianças são incentivadas e aplaudidas por cantarem e dançarem esse lixo descartável com conotações explicitamente sexuais.
                        Não sou nenhum intelectual, também tenho lá os meus gostos duvidosos, a minha queda por algumas coisas bagaceiras (quem nunca dançou ‘macarena’ que atire o primeiro CD), mas isso é a exceção e não a regra.
                        Em tempos de redes sociais até fica mais fácil se sair do anonimato, mas como já temos por formação o gosto pelas coisas duvidosas, a Luiza (que até já voltou do Canadá) teve mais espaço na mídia e mais seguidores que a Tulipa Ruiz com o seu também excelente trabalho em Efêmera. Por sorte ela (a Luiza) não canta, ainda bem, porque já foi inspiração para uma canção de extremo mau gosto em ritmo de funk, se não me falha a memória. Se um dia resolver cantar faço votos que ela não se inspire na música para a qual foi a fonte de inspiração.
                        Estou me referindo a música porque é o segmento cultural dominante, mas a opinião vale igualmente para os demais segmentos culturais como literatura, artes em todos os seus segmentos, etc.
                        E com todo esse baixo nível cultural só nos resta lamentar não termos mais gente talentosa para nos brindar com belas canções e bons interpretes, rememorando os grandes compositores e intérpretes do passado. Se continuarmos aplaudindo esse material de baixa qualidade, não reconhecendo os talentos perdidos por aí, certamente não teremos novos Caetanos, Chicos, Elis, Djavans, Gals, Bethânias, Neys, etc.
                        Então, antes de sair cantarolando por aí aquela música que se entranhou na sua cabeça de tanto você ouvi-la em todos os canais de mídia, faça um pouco de esforço e cante alguma coisa decente, nem que seja para você mesmo e poupe os seus e os meus ouvidos deste lixo descartável que elegeram à categoria de música. Pronto, falei, tô leve!


Vídeo: Felicidade