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quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Difícil Arte de Estrear à Luz de Velas


                        Quando decidi que iria fazer um blog de crônicas(?), - acho muita pretensão me intitular cronista, tanto que na crônica(?) anterior, a primeira, eu a nomeei de “escrita de estréia”, mas confesso que essa definição não me agrada e meio que fere os meus ouvidos – então, por puro convencionalismo, sem ter a pretensão de me intitular cronista, vou definir estes “escritos” como crônicas. Estamos combinados e não se fala mais nisso.
                        Pois bem, reativei o blog (criado inicialmente para uma confraternização e nunca mais usado) e pensei: moleza, entro, escrevo, publico e pronto: prático, rápido e indolor.
                        O que eu não imaginava era que isso iria me dar tanto trabalho! Primeiro porque eu não sou nenhum webdesigner (acho chique este termo, Betina Botox diria: Digno!) e em termos de informática, assim como 90% da humanidade, sou autodidata, então já tive um trabalhão para conseguir editar a tal crônica e fazer a sua postagem posterior.
                        Como se isso não bastasse, claro que eu já comecei escrevendo on line, direto no blog mesmo. Se a informática está aí para facilitar a nossa vida, pra quê ter trabalho fazendo rascunho, se podemos escrever, corrigir, editar, colar etc.?
                        E assim foi feito. Lá pelas tantas, quando já estava no meio do texto, faltou energia no bairro. O Rio tem esse problema (além de muitos outros), quando a chuva é anunciada na previsão do tempo, no Jornal Nacional, já falta energia em alguma parte da cidade!
                        E justo neste dia chovia e muito! A Tijuca e redondezas já estavam embaixo d’água. Como sou do Sul e adoro dias chuvosos, achei perfeito para escrever e me empolguei.
                        A temperatura havia caído, o clima estava agradável naturalmente, sem o split ligado. Era ir pra frente do note e mandar ver!
                        Faltou luz mas a bateria do note estava 100% carregada, eu já estava no meio do texto, daria tempo, tranquilamente, de terminá-lo e postá-lo antes da bateria ir por beleléu.
                        Acendi velas e no melhor estilo bucólico fiquei ali, feliz, entre a luz amarelada das chamas das velas e a luz azulada da tela. Notei o avisinho em vermelho fora da caixa de texto: “não foi possível salvar o trabalho”. Nem dei bola, vou finalizar o texto, salvá-lo e tudo bem.
                        Continuei escrevendo e a bateria abaixando o nível de carregamento... e o avisinho lá, se renovando e querendo me irritar dizendo que “não foi possível salvar o trabalho”.
                        Finalizei o texto no último suspiro da bateria e pressionei rapidamente “salvar”. Nada aconteceu. Comecei a me desesperar, quem já passou por isso e todos já passaram, sabe o desespero que bate quando não conseguimos salvar um trabalho já finalizado. Só o pensamento de ter que digitar tudo de novo já nos deixa em pânico.
                        Fui para o “visualizar” para ver como ficaria o texto publicado, já decidido a publicá-lo assim mesmo e quando a energia voltasse, provavelmente no outro dia, eu editaria, arrumaria etc. Pressionei o “visualizar” e veio o novo aviso “não foi possível se conectar à internet” e uma página em branco ali na minha frente. Em meio ao pavor, me dei conta de que sem energia o wireless não funciona e como eu estava escrevendo on line, direto no blog, corria o sério risco de não conseguir salvar parte do trabalho.
                        Desespero total, minha vida por um modem, tateando as gavetas no escuro. Achei! Graças a Deus! Conectei na rapidez da luz, já rezando, fazendo promessa pra tudo dar certo. A adrenalina a mil. Aparece o texto publicado - só os três primeiros parágrafos...
                        Fiquei ali imóvel, paralisado, olhando para aqueles três míseros parágrafos iniciais. Não acredito, pensei, três parágrafos! E tinha ficado tão bonitinho...
                        Respirei fundo, fazer o quê? Teria que reescrever tudo de novo, quando voltasse a energia, porque a bateria pifou de vez, a luz azulada se foi e o que restou foi só a luz amarelada das chamas das velas. E isso só seria possível, certamente, no outro dia e se parasse de chover, porque a estas alturas, a água lá fora já estava há muito tempo invadindo os prédios. Mesmo que a light tivesse a intenção de me ajudar, isso só seria possível com um transatlântico cruzando as ruas e avenidas da Tijuca.
                        Mas o texto estava ali, fresquinho na memória, cada palavra. Esperar até o dia seguinte já seria outro texto, não iria conseguir reproduzir o mesmo. Isso sem dizer que eu não estava com o menor sono. Mais uma noite de insônia? E no escuro? Sem sequer poder ver o Jô?
                        Não, vou reescrever tudo agora, à mão, como eu fazia no tempo do primário e à luz de velas mesmo – naquela época eram lamparinas, alimentadas por querosene (ainda consigo me lembrar, claramente, do cheiro enjoado que exalava).
                        E assim foi feito, reabasteci o estoque de velas na mesa, acendi mais uma para dar mais claridade e, com toda a calma, voltei ao tempo em que fazia as “tarefas escolares” – “deveres de casa” em algumas regiões – sob a luz fraca e trêmula das lamparinas alimentadas por querosene.
                        Reescrevi tudo, li, reli, fiquei satisfeito com o dever cumprido. Mas aprendi, direto no blog, on line, nunca mais. A partir de agora e sempre, primeiro no Word, depois editar, colar, visualizar e só então publicar.
                        Valeu a sessão saudosismo, mas uma noite já foi mais que suficiente!

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