Tenho
uma amiga que está, no momento, ao que me parece, naquela fase de interesse por
alguém, que parece que está também afim e parece que a coisa vai render! - ou
não? Está no início do que chamo de ‘fase de encantamento’.
Aquela
fase em que, por mais que queiramos manter segredo, porque não sabemos se vai
dar certo ou não, sentimos uma necessidade fremente de dividir com alguém a
nova descoberta, a nova possível conquista, o novo possível envolvimento.
Chamo
de ‘fase de encantamento’ porque é exatamente assim que ficamos: encantados.
Dormimos e acordamos pensando, de alguma forma, no (possível) ser amado.
Fazemos mil retrospectivas dos momentos já vividos e, às vezes, até duvidamos
de que esteja realmente acontecendo. Achamos que estamos vendo coisas, que
estamos confundindo os atos, gestos e demais atenções que recebemos. Ao mesmo
tempo, temos certeza de que todos os atos, gestos e atenções foram sim,
demonstrações de interesse. Um verdadeiro e delicioso inferno repleto de dúvidas
e certezas que nos assolam o tempo todo e ao mesmo tempo.
Quando
percebi o que estava acontecendo, mesmo sem ela ter me dito abertamente, fui
pragmático: deixa rolar pra ver o que acontece e aproveite porque esta é a
melhor fase.
E é
mesmo, porque nesta fase tudo o que vemos são as qualidades do outro, até
porque o outro não nos mostra os defeitos, nos mostra exatamente o que queremos
ver. E a recíproca é verdadeira, também nós damos ao outro, com toda a cautela,
somente o que percebemos que ele quer.
Depois
de algumas experiências, umas boas, outras nem tanto e até uma ou outra mais
traumática, vamos aprendendo a lidar com esta ‘fase de encantamento’. Sabemos
que há muito por se descobrir e que, por mais que pareça, o outro tem lá os
seus defeitos, todos têm.
No
meu atual casamento, quando a coisa começou, embora ambos tenhamos sentido que
haveria a possibilidade de engrenar, pactuamos em ir com calma, vivendo um dia
após o outro e foi nessa negociação que ouvi a seguinte colocação: - Vamos
aguardar e ver o que acontece quando os esqueletos começarem a sair dos
armários. Gostei, principalmente pelo inusitado da forma de dizer que nem tudo
seria perfeito e que haveria, sim, coisas que poderiam não ser tão agradáveis e
que teríamos de superar. Tem funcionado, muitos esqueletos já saíram dos
armários e temos superado a todos. Não com tanta facilidade como possa parecer,
mas com base no respeito e na cumplicidade, que no final das contas é o que é
imprescindível.
Na
minha adolescência descobri uma frase, em uma das músicas do Pink Floyd, que
passou a ser o meu mantra, a minha frase de campanha. Cheguei a estampar uma
camiseta com ela, que usei enquanto durou. Hoje a usaria com a mesma
desenvoltura porque considero essa frase uma verdade absoluta e atemporal – If a show you my dark side, will you stay
with me?
Temos
todos um lado negro que, cedo ou tarde, aflora. Ter a capacidade de transpô-lo
vai exigir a sabedoria necessária que cada um tem que ter se quiser fazer com
que o relacionamento dê certo e siga adiante.
Era
isso que eu queria dizer a minha amiga, que ela aproveitasse a fase de encantamento,
porque depois desta fase vem aquela em que os esqueletos começam a sair dos
armários e nesta temos que ter a sabedoria e o jogo de cintura necessários para
contorná-la se quisermos seguir apostando nesta nova história a ser vivida. É a fase em que
cada um mostra o seu lado negro. Se superada, o relacionamento se solidifica e
passamos a ser não mais pessoas encantadas, mas cúmplices em uma vida em comum.
Como não
deu tempo de falar nisso naquele dia, estou falando agora. Mas não se preocupe
com isso nesta fase, amiga, tudo a seu tempo. Por enquanto viva o seu
encantamento, que esta é a melhor fase e é dela que você guardará as suas
melhores lembranças.
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