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quinta-feira, 8 de março de 2012

Poesia Cruzando os Ares


                        Onde muitos vêem novidade, simpatia, comodidade, bom atendimento, às vezes um preço competitivo, bom marketing, bom tino comercial, eu vejo poesia. Não que eu não veja estas outras qualidades, vejo e torço para que continuem cada vez melhores, sob todos os aspectos e, principalmente, no quesito bons preços. Quando digo que vejo poesia é porque foi exatamente o lado poético que me chamou a atenção desde a primeira vez. Estou me referindo à Azul, a companhia aérea que passou a disputar o espaço aéreo nacional em 2008 e neste pouquíssimo tempo conquistou milhões de brasileiros, inclusive a mim.
                        Tenho uma franca admiração por David Neeleman, o seu fundador, já li um pouco sobre a trajetória dele e o considero o Bill Gates da aviação. O cara é bom, conhece o terreno onde pisa (ou melhor, onde voa) e o seu público consumidor. Tem tido uma vida dedicada aos ares, mas mantém os pés bem firmes em solo. Tem umas sacadas de marketing que está inovando, com sucesso, o segmento da aviação nacional.
                        O que mais me chama a atenção, no entanto, é a poesia que cerca cada detalhe da companhia, desde a sua concepção até o serviço final que é prestado, começando pelo nome: Azul. Não há como negar que é um nome poético, a cor é poética, inspira tranqüilidade, calmaria, serenidade. Por suas boas vibrações é muito utilizada no esoterismo e na cromoterapia. Voar Azul – me remete ao vôo de um pássaro azul, no azul do espaço. Gosto dessa analogia poética.
                        Recordo que a primeira vez que voei Azul, quando teve início o serviço de bordo, fiquei encantado quando vi as comissárias (tripulantes, como define a companhia) carregando os cestos de vime. Na hora me veio à mente a imagem de camponesas italianas nos campos de trigo e arroz. Em nada lembravam as sisudas “aeromoças” do passado. Eu tinha medo delas. Tinha a impressão de que se fizesse qualquer coisinha errada durante o vôo elas iriam me por de castigo. Algumas companhias ainda as mantêm, as “moças aéreas”, como eu as defino, porque dão a impressão de que estão acima, inclusive, da própria aeronave, de tão empertigadas que são, mesmo em solo continuam com a cabeça lá em cima, praticamente nas nuvens. Hoje não tenho mais medo, mas também não as acho menos antipáticas. Ainda prefiro as “camponesas azuis”.
                        No final do vôo quando a tripulação agradeceu “por termos passado parte do nosso dia com eles” e se despediu desejando a todos que tivessem “uma noite azul”, me conquistaram de vez. Cheguei em casa e comentei essa minha estréia pela companhia ressaltando este lado poético e acreditando mesmo que eu teria “uma noite azul”.
                        E a poesia não parou por aí, ainda tinha mais, conforme eu descobri nos vôos seguintes. Lendo a revista de bordo da companhia fiquei informado de que as aeronaves, além do prefixo obrigatório são batizadas também com um “nome de batismo”. Lendo os mesmos os achei bastante criativos e poéticos: Planeta Azul, O Rio de Janeiro Continua Azul, Azul Paulista, A Liberdade é Azul, Azul da Cor do Mar, - Céu, Sol, Sul, Azul – Blue Angels, Sonho Azul... e por aí vai.
                        A partir daí passei a observar, na hora do embarque, o nome da aeronave na qual eu iria voar, uma brincadeira lúdica e engraçada que, na minha imaginação me remete a poemas, músicas, filmes, livros, etc. Recentemente, na volta do Carnaval, fiz o vôo Navegantes – Rio, com conexão em Campinas. Iniciei o trajeto na Rosa e Azul (a aeronave cor de rosa que marcou a bem sucedida parceria da Azul com a.FEMAMA no combate ao câncer de mama com o trabalho de conscientização da população). Esse nome, além das reminiscências femininas que evoca, me faz lembrar um dos trabalhos de Marisa Monte, o disco Cor de Rosa e Carvão, que acho ótimo. Em Viracopos fiz a conexão para o Rio e vim na Céu Azul, que me faz lembrar, especificamente, de um trecho da letra da música Azul, do Djavan, que diz: “Até o sol nascer amarelinho/Queimando mansinho/Cedinho, cedinho (cedinho)/Corre e vá dizer/Pro meu benzinho/Um dizer assim/O amor é azulzinho”... Coisas de quem traz a escrita nas veias e um pouco de poesia pelo sangue, porque senão a vida perde a graça.
                        Neste mesmo vôo percebi uma outra sacada de marketing da companhia, com uma dosezinha de poesia: as novas embalagens das batatinhas que fazem parte do serviço de bordo e que todo mundo adora, em novas embalagens com a frase: “As tais das batatinhas que fizeram a Azul mundialmente famosa”. Anotei na hora a frase e foi neste exato momento que me veio a inspiração para esta crônica.
                        Lendo a revista de bordo notei que há uma aeronave (a PR-AYX - Embraer 195) que ainda não foi “batizada”, está cruzando os ares sem o seu nome de batismo. Se eu voar nela, quais as reminiscências que me trará? Branco total, não aceito. Poema Azul – fica aqui a sugestão!
                        Que tenham vida longa estes pássaros azuis que cruzam os ares, que voem cada vez mais alto e longe, que não percam o principal objetivo que é proporcionar ao cliente “a melhor viagem aérea possível”, conforme é o desejo do diretor da companhia, que a busca pelo lucro não mate a poesia e, por fim, que o preço das passagens continue sendo uma realidade terrena, que caiba nos nossos bolsos e não seja apenas um sonho na imensidão do firmamento Azul. Amém.

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