Onde
muitos vêem novidade, simpatia, comodidade, bom atendimento, às vezes um preço
competitivo, bom marketing, bom tino
comercial, eu vejo poesia. Não que eu não veja estas outras qualidades, vejo e
torço para que continuem cada vez melhores, sob todos os aspectos e,
principalmente, no quesito bons preços. Quando digo que vejo poesia é porque
foi exatamente o lado poético que me chamou a atenção desde a primeira vez.
Estou me referindo à Azul, a companhia aérea que passou a disputar o espaço
aéreo nacional em 2008 e neste pouquíssimo tempo conquistou milhões de brasileiros,
inclusive a mim.
Tenho
uma franca admiração por David Neeleman, o seu fundador, já li um pouco sobre a
trajetória dele e o considero o Bill Gates da aviação. O cara é bom, conhece o
terreno onde pisa (ou melhor, onde voa) e o seu público consumidor. Tem tido
uma vida dedicada aos ares, mas mantém os pés bem firmes em solo. Tem umas
sacadas de marketing que está
inovando, com sucesso, o segmento da aviação nacional.
O que
mais me chama a atenção, no entanto, é a poesia que cerca cada detalhe da
companhia, desde a sua concepção até o serviço final que é prestado, começando
pelo nome: Azul. Não há como negar que é um nome poético, a cor é poética,
inspira tranqüilidade, calmaria, serenidade. Por suas boas vibrações é muito
utilizada no esoterismo e na cromoterapia. Voar Azul – me remete ao vôo de um
pássaro azul, no azul do espaço. Gosto dessa analogia poética.
Recordo
que a primeira vez que voei Azul, quando teve início o serviço de bordo, fiquei
encantado quando vi as comissárias (tripulantes, como define a companhia)
carregando os cestos de vime. Na hora me veio à mente a imagem de camponesas
italianas nos campos de trigo e arroz. Em nada lembravam as sisudas “aeromoças”
do passado. Eu tinha medo delas. Tinha a impressão de que se fizesse qualquer
coisinha errada durante o vôo elas iriam me por de castigo. Algumas companhias
ainda as mantêm, as “moças aéreas”, como eu as defino, porque dão a impressão
de que estão acima, inclusive, da própria aeronave, de tão empertigadas que são,
mesmo em solo continuam com a cabeça lá em cima, praticamente nas nuvens. Hoje
não tenho mais medo, mas também não as acho menos antipáticas. Ainda prefiro as
“camponesas azuis”.
No
final do vôo quando a tripulação agradeceu “por termos passado parte do nosso
dia com eles” e se despediu desejando a todos que tivessem “uma noite azul”, me
conquistaram de vez. Cheguei em casa e comentei essa minha estréia pela
companhia ressaltando este lado poético e acreditando mesmo que eu teria “uma
noite azul”.
E a
poesia não parou por aí, ainda tinha mais, conforme eu descobri nos vôos
seguintes. Lendo a revista de bordo da companhia fiquei informado de que as
aeronaves, além do prefixo obrigatório são batizadas também com um “nome de
batismo”. Lendo os mesmos os achei bastante criativos e poéticos: Planeta Azul,
O Rio de Janeiro Continua Azul, Azul Paulista, A Liberdade é Azul, Azul da Cor
do Mar, - Céu, Sol, Sul, Azul – Blue Angels, Sonho Azul... e por aí vai.
A
partir daí passei a observar, na hora do embarque, o nome da aeronave na qual
eu iria voar, uma brincadeira lúdica e engraçada que, na minha imaginação me
remete a poemas, músicas, filmes, livros, etc. Recentemente, na volta do Carnaval,
fiz o vôo Navegantes – Rio, com conexão em Campinas. Iniciei o trajeto na Rosa
e Azul (a aeronave cor de rosa que marcou a bem sucedida parceria da Azul com
a.FEMAMA no combate ao câncer de mama com o trabalho de conscientização da
população). Esse nome, além das reminiscências femininas que evoca, me faz
lembrar um dos trabalhos de Marisa Monte, o disco Cor de Rosa e Carvão, que
acho ótimo. Em Viracopos fiz a conexão para o Rio e vim na Céu Azul, que me faz
lembrar, especificamente, de um trecho da letra da música Azul, do Djavan, que
diz: “Até o sol nascer amarelinho/Queimando mansinho/Cedinho, cedinho (cedinho)/Corre
e vá dizer/Pro meu benzinho/Um dizer assim/O amor é azulzinho”... Coisas de
quem traz a escrita nas veias e um pouco de poesia pelo sangue, porque senão a
vida perde a graça.
Neste
mesmo vôo percebi uma outra sacada de marketing
da companhia, com uma dosezinha de poesia: as novas embalagens das batatinhas
que fazem parte do serviço de bordo e que todo mundo adora, em novas embalagens
com a frase: “As tais das batatinhas que fizeram a Azul mundialmente famosa”.
Anotei na hora a frase e foi neste exato momento que me veio a inspiração para
esta crônica.
Lendo
a revista de bordo notei que há uma aeronave (a PR-AYX - Embraer 195) que ainda
não foi “batizada”, está cruzando os ares sem o seu nome de batismo. Se eu voar
nela, quais as reminiscências que me trará? Branco total, não aceito. Poema
Azul – fica aqui a sugestão!
Que
tenham vida longa estes pássaros azuis que cruzam os ares, que voem cada vez
mais alto e longe, que não percam o principal objetivo que é proporcionar ao
cliente “a melhor viagem aérea possível”, conforme é o desejo do diretor da
companhia, que a busca pelo lucro não mate a poesia e, por fim, que o preço das
passagens continue sendo uma realidade terrena, que caiba nos nossos bolsos e
não seja apenas um sonho na imensidão do firmamento Azul. Amém.
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