SCM Music Player

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Papai tem cada uma!


                                 Tive a sorte e o privilégio de, já adulto, ter um segundo pai. Ainda bem, porque o primeiro, o biológico, muito pouco ou quase nada me acrescentou, exceto o fato de ter contribuído para que eu fosse gerado, reconheço. No mais, se me serviu de exemplo para alguma coisa foi o exemplo ao contrário, o exemplo negativo, ou seja, para me dar o exemplo de tudo o que eu não queria ser, o exemplo da vida que eu não queria ter, o exemplo do caráter que eu não teria e por aí vai. Graças a ele me tornei o que sou, não por seguir os seus exemplos, mas por ser antagônicos a ele. Não tive um pai-herói, o meu foi um anti-herói.
                                 Em compensação (e ainda bem que a vida tem muitas delas), o segundo chegou e preencheu todas as lacunas abertas desde a infância e a este eu devo muito, devo quase tudo e sou/serei eternamente grato. Foi e será sempre o meu porto seguro. Aquele em quem confio a minha vida com a certeza de que ele zelará por ela como se fosse a sua. A recíproca é verdadeira, se há alguém por quem eu daria a minha, é ele.
                                 Ele é perfeito? Não. Tem os seus defeitos, às vezes é ranzinza, teimoso, incomoda, quer que a sua opinião seja uma verdade absoluta e universal etc., etc., como todo ser humano. Mas tem as suas virtudes e essas são bem maiores que os pequenos defeitos. Dentre elas tem uma que me surpreende vida afora, sempre, o seu bom humor. É, definitivamente, uma pessoa de bem com a vida, daqueles que até os passarinhos se calam diante da sua alegria incontida. E é desse bom humor que ele me sai com cada uma!
                                 Ao longo da vida foi acumulando histórias, próprias, de outros, do que acontece a sua volta e delas foi incorporando as suas tiradas. Se alguém tenta enrolá-lo de alguma forma, ele acaba com a enrolação sentenciando sério: “Sei, não me venhas com água que o incêndio é na piscina!” Se conhece alguém que, digamos, é chegado numa mentira, ou em cada conto aumenta um ponto, ao se referir à pessoa ele faz questão de lembrar: “... mas você sabe, né? Fulano queima campo com chuva!” Se alguém, por engano, erra alguma coisa lá vem ele com o seu “O que que é isso Laura?”. E tem muitas outras e sempre aparece com uma nova.
                                 Tem sempre uma frase divertida para permear qualquer assunto, mesmo aqueles que são sérios. Por conta disso já foi mal interpretado algumas vezes, por falar o que não devia na hora errada fazendo com que a pessoa ficasse ofendida. A ele serve, como uma luva, a máxima “perde o amigo, mas não perde a piada”.
                                 Graças ao seu bom humor tem muita facilidade em fazer amigos e por conta disso também, às vezes, briga com alguns. Não é muito chegado na diplomacia, se alguém lhe desagrada e torna-se indesejável rapidamente é riscado de sua vida e entra para a sua lista negra. Às vezes volta, outras não.
                                 Possessivo, ciumento, intransigente às vezes, mas com um espírito infantil que quem realmente o conhece percebe logo quando é a criança que o habita que está falando por ele. Alguns prismas do seu ser podem até parecerem defeitos, à primeira vista, para quem não o conhece, pra mim são apenas pequenos detalhes da sua personalidade.
                                 E antes que eu fale mais do que devo, acho melhor parar por aqui, senão esta crônica que é para ser um gesto de carinho vai acabar virando motivo de discórdia e isso é o que eu não quero, então, “Lilita, minha bolsa!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário