Tive a sorte e o privilégio de, já
adulto, ter um segundo pai. Ainda bem, porque o primeiro, o biológico, muito
pouco ou quase nada me acrescentou, exceto o fato de ter contribuído para que
eu fosse gerado, reconheço. No mais, se me serviu de exemplo para alguma coisa
foi o exemplo ao contrário, o exemplo negativo, ou seja, para me dar o exemplo
de tudo o que eu não queria ser, o exemplo da vida que eu não queria ter, o
exemplo do caráter que eu não teria e por aí vai. Graças a ele me tornei o que
sou, não por seguir os seus exemplos, mas por ser antagônicos a ele. Não tive
um pai-herói, o meu foi um anti-herói.
Em compensação (e ainda bem que a
vida tem muitas delas), o segundo chegou e preencheu todas as lacunas abertas
desde a infância e a este eu devo muito, devo quase tudo e sou/serei
eternamente grato. Foi e será sempre o meu porto seguro. Aquele em quem confio
a minha vida com a certeza de que ele zelará por ela como se fosse a sua. A
recíproca é verdadeira, se há alguém por quem eu daria a minha, é ele.
Ele é perfeito? Não. Tem os seus
defeitos, às vezes é ranzinza, teimoso, incomoda, quer que a sua opinião seja
uma verdade absoluta e universal etc., etc., como todo ser humano. Mas tem as
suas virtudes e essas são bem maiores que os pequenos defeitos. Dentre elas tem
uma que me surpreende vida afora, sempre, o seu bom humor. É, definitivamente,
uma pessoa de bem com a vida, daqueles que até os passarinhos se calam diante
da sua alegria incontida. E é desse bom humor que ele me sai com cada uma!
Ao longo da vida foi acumulando
histórias, próprias, de outros, do que acontece a sua volta e delas foi
incorporando as suas tiradas. Se alguém tenta enrolá-lo de alguma forma, ele
acaba com a enrolação sentenciando sério: “Sei, não me venhas com água que o
incêndio é na piscina!” Se conhece alguém que, digamos, é chegado numa mentira,
ou em cada conto aumenta um ponto, ao se referir à pessoa ele faz questão de
lembrar: “... mas você sabe, né? Fulano queima campo com chuva!” Se alguém, por
engano, erra alguma coisa lá vem ele com o seu “O que que é isso Laura?”. E tem
muitas outras e sempre aparece com uma nova.
Tem sempre uma frase divertida para
permear qualquer assunto, mesmo aqueles que são sérios. Por conta disso já foi
mal interpretado algumas vezes, por falar o que não devia na hora errada
fazendo com que a pessoa ficasse ofendida. A ele serve, como uma luva, a máxima
“perde o amigo, mas não perde a piada”.
Graças ao seu bom humor tem muita
facilidade em fazer amigos e por conta disso também, às vezes, briga com
alguns. Não é muito chegado na diplomacia, se alguém lhe desagrada e torna-se
indesejável rapidamente é riscado de sua vida e entra para a sua lista negra.
Às vezes volta, outras não.
Possessivo, ciumento, intransigente
às vezes, mas com um espírito infantil que quem realmente o conhece percebe
logo quando é a criança que o habita que está falando por ele. Alguns prismas
do seu ser podem até parecerem defeitos, à primeira vista, para quem não o
conhece, pra mim são apenas pequenos detalhes da sua personalidade.
E antes que eu fale mais do que
devo, acho melhor parar por aqui, senão esta crônica que é para ser um gesto de
carinho vai acabar virando motivo de discórdia e isso é o que eu não quero,
então, “Lilita, minha bolsa!”
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