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quarta-feira, 18 de abril de 2012

De Volta ao Século XVIII


O pirata tinha uma filha que estava na idade de se casar. Naquela época, século XVIII, uma moça em idade casadoira que não se casasse era motivo de chacotas na sociedade, a temida alcunha de “solteirona” vinha carregada das piores características (megeras, amargas, invejosas, inúteis, frustradas) e por isso as moças quando adentravam na idade em que deviam se casar, entravam em alvoroço à procura de um pretendente a marido.

Só que ninguém queria se casar com a filha de um pirata, esse era o grande problema, o grande dilema. E o pirata se compadecia com o sofrimento da filha. Ele tinha amealhado uma enorme fortuna, assaltando os navios que levavam o ouro que era encontrado em Minas Gerais e ia para a Europa via Portugal. Toda a sua riqueza, no entanto, não resolvia o problema da filha que continuava solteira.

Ela começou então a sua própria batalha contra o pai, tentando convencê-lo a deixar de ser pirata e a se converter ao cristianismo católico, a religião dominante na época. Tanto fez a moça que, não só conseguiu fazer com que o pai se convertesse como também o convenceu de que para se redimir dos seus pecados ele deveria usar parte da sua fortuna, principalmente parte do ouro roubado que possuía, para construir uma igreja. E assim teve início a construção da Igreja Matriz, a maior de todas que a cidade ainda preserva.

O pirata não viveu o suficiente para ver o término da igreja. Também não sei se a sua filha conseguiu o casamento que tanto almejava. O tempo foi curto e não tive como saber o final desta estória.

Naquela época o ouro tinha pouco valor comercial no Brasil, por isso era levado para a Europa via Portugal, sendo alvo dos piratas que rondavam a rota destes navios. Os navios vinham de Portugal carregados de pedras que eram usadas para dar lastro aos mesmos e as desembarcavam aqui onde eram substituídas por ouro para o retorno a Portugal. Com o uso de trabalho escravo essas pedras eram usadas para fazer o calçamento das ruas da cidade, que assim permanecem até hoje.

Histórias, lendas e a mistura de ambos fazem parte da história de Paraty. O Centro Histórico da cidade, mantido como patrimônio nacional, permanece com o seu calçamento original de pedra e as suas construções com as fachadas igualmente originais. É isso o que você vai encontrar ao visitar a cidade. Um lugar que lhe transporta no tempo, onde, se você se deixar levar pelas histórias que cada canto da cidade oferece, terá a nítida impressão de que está mesmo no século XVIII.

Infelizmente fiquei pouco tempo na cidade, apenas um final de semana, por isso não deu tempo de conhecer melhor, como deveria, os demais recantos da região onde já sei que existem praias paradisíacas, fazendas que mantém as características originais e abertas à visitação, ilhas e outros locais para caminhadas, tudo em meio a uma vegetação exuberante, dentre outras opções, que valem uma visita mais prolongada.

A cidade em si, além do Centro Histórico, não oferece grandes atrativos. Os passeios de escunas e o artesanato são os dois pontos com certa relevância. O artesanato, para quem gosta, tendo paciência para percorrer as lojas, encontra-se boas peças por preços razoáveis. Os passeios de escunas são dispensáveis (pouca navegação com paradas em alto mar que não seriam necessárias e visita a apenas duas pequenas praias próximas), melhor contratar um barco pequeno e visitar as praias que lhe interessarem.

O melhor mesmo de Paraty é a sua história e isso você tem que se informar antes ou ir direto para a Biblioteca Pública local, porque o Museu instalado na Casa de Cultura não tem nenhum registro desta história. Tive a sorte de visitar uma exposição itinerante de ceramistas nacionais e internacionais que estava acontecendo na Casa de Cultura, o que valeu a visita. Se possível programe a sua ida para uma data em que esteja acontecendo um dos eventos da programação cultural que a cidade oferece, o calendário de eventos é bastante diversificado.

No quesito hospedagem a oferta é grande. Há inúmeras pousadas em qualquer localização da cidade. Tive a impressão de que haviam mais pousadas do que moradores. A gastronomia é fraca, principalmente no que diz respeito aos frutos do mar. Se for na alta temporada prepare-se para gastar muito, os preços dobram e não há nenhuma melhora no serviço de atendimento.

Apesar destes contras, vale a pena dar este pequeno mergulho nos séculos passados, conhecer a cidade e, principalmente, as histórias e lendas por trás de cada casarão e de cada recanto do lugar.


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