Vou acender estrelas só pra te receber e
anéis de saturno pra fazer bambolê. Marcelo Jeneci produziu um disco ótimo.
Letras inteligentes e poéticas e arranjos bem elaborados. Talvez você não saiba
de quem eu estou falando e eu não lhe culpo, ele não está na mídia, não é
apadrinhado por ninguém influente da Rede Globo e suas canções não estão em
comercial de carros, ou qualquer comercial. Suas músicas não têm coreografias
com referências explicitamente sexuais e por isso não são dançadas nas comemorações
de gols dos jogadores festejados no momento. Ainda bem. Eu ficaria bastante
decepcionado se isso acontecesse, porque ele tem cérebro, tem cultura, tem
formação musical e é um poeta. Se a mídia reconhecesse isso seria ótimo, mas
como a mídia prefere e precisa da linguagem dos que não pensam, ele continua
fazendo sucesso em círculos restritos, sem muita divulgação.
Não
caiu nas graças do Roberto como Paula Fernandes, nem teve um amigo que levasse
Caetano pra assistir a um show seu, como aconteceu com Maria Gadú.
Talento
no nosso país depende mais de sorte que de cultura e leva muito tempo para ser
reconhecido, principalmente nos dias atuais onde o que se destaca mesmo é a
banalidade fast food de consumo
imediato e sem conteúdo. É até mesmo provável que ele tenha que primeiro fazer
sucesso na Europa para só depois ser reconhecido aqui como um grande talento.
Foi assim no passado e no presente não mudou muito.
Estou
falando do Jeneci por ser um dos que descobri recentemente, mas tenho certeza
de que existem muitos outros talentos escondidos por aí, fazendo pequenos shows
em bares noturnos e cidades interioranas. E mesmo que eles venham a ser vistos
nacionalmente um dia, será difícil fazer a sua arte e o seu talento ser
devidamente reconhecidos porque as cabeças pensantes do nosso país ainda são uma
minoria. Não temos na nossa formação as informações culturais que deveriam ser
transmitidas desde o nosso tempo de crianças. Contrariamente, as crianças são
incentivadas e aplaudidas por cantarem e dançarem esse lixo descartável com
conotações explicitamente sexuais.
Não
sou nenhum intelectual, também tenho lá os meus gostos duvidosos, a minha queda
por algumas coisas bagaceiras (quem nunca dançou ‘macarena’ que atire o
primeiro CD), mas isso é a exceção e não a regra.
Em
tempos de redes sociais até fica mais fácil se sair do anonimato, mas como já
temos por formação o gosto pelas coisas duvidosas, a Luiza (que até já voltou do Canadá) teve mais espaço na mídia e
mais seguidores que a Tulipa Ruiz com
o seu também excelente trabalho em Efêmera.
Por sorte ela (a Luiza) não canta,
ainda bem, porque já foi inspiração para uma canção de extremo mau gosto em
ritmo de funk, se não me falha a
memória. Se um dia resolver cantar faço votos que ela não se inspire na música
para a qual foi a fonte de inspiração.
Estou
me referindo a música porque é o segmento cultural dominante, mas a opinião
vale igualmente para os demais segmentos culturais como literatura, artes em
todos os seus segmentos, etc.
E com
todo esse baixo nível cultural só nos resta lamentar não termos mais gente
talentosa para nos brindar com belas canções e bons interpretes, rememorando os
grandes compositores e intérpretes do passado. Se continuarmos aplaudindo esse
material de baixa qualidade, não reconhecendo os talentos perdidos por aí, certamente
não teremos novos Caetanos, Chicos, Elis, Djavans, Gals, Bethânias, Neys, etc.
Então,
antes de sair cantarolando por aí aquela música que se entranhou na sua cabeça
de tanto você ouvi-la em todos os canais de mídia, faça um pouco de esforço e
cante alguma coisa decente, nem que seja para você mesmo e poupe os seus e os
meus ouvidos deste lixo descartável que elegeram à categoria de música. Pronto,
falei, tô leve!
Vídeo: Felicidade
Vídeo: Felicidade
Sou completamente apaixonada por esse artista incrível e concordo plenamente com suas palavras.
ResponderExcluirNem preciso dizer que concordo que ele é incrível, né Tiça? rsrsrs
ResponderExcluirObrigado pela visita, volte sempre!