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sábado, 30 de abril de 2011

Dias Nublados

                    Depois de praticamente um ano morando no Rio entendi, finalmente, porque “cariocas não gostam de dias nublados”. É que dias nublados é prenúncio de chuva e chuva, no Rio, é sinônimo de muito estrago.
                        Já havia acompanhado, pelo noticiário, os estragos de inundações anteriores como aconteceu, recentemente, na região serrana. Mas uma coisa é ver a enxurrada na telinha, outra é estar no meio dela (não literalmente). Desta vez fiz parte das estatísticas. Não sofri nenhum dano, porque encarapitado no 9º andar, não tinha como a água me levar. Mas protagonizei o dia seguinte e os que estão se sucedendo.
                        A chuva começou no início da noite e eu já estava em casa. Confesso que nem me dei conta de o quanto estava forte, se bem que, dadas as condições de esgoto, não é preciso muito para que algumas regiões alaguem facilmente, com qualquer chuva. Se um pouco intensa, então, é estrago na certa. Desta vez a região mais afetada foi a Praça da Bandeira, Maracanã e Tijuca. E a devastação foi total. Só percebi a gravidade da situação quando faltou energia e fui até a janela ver o que estava acontecendo. Tudo ao redor já era um mar de água e lama, já com alguns carros boiando. Em alguns lugares a água chegou a dois metros de altura.
                        Em razão do horário, funcionários que ainda estavam nas empresas tiveram que dormir ali mesmo. Algumas escolas também acharam mais seguro não liberarem os alunos e estes passaram a noite nas mesmas.
                        No dia seguinte a devastação era total. A lama e o lixo cobria toda a região e o simples ato de caminhar era uma aventura. As pessoas empenhadas na limpeza dos estabelecimentos, prédios, casas e calçadas estavam sombrias. O sentimento geral era de desolação e depressão. Os prejuízos incalculáveis. Boa parte da região sem energia, inclusive o prédio onde moro. Os nove andares que me separam da calçada foram vencidos pela escada.
                        No decorrer do dia, com a movimentação dos veículos que esquentavam as ruas, a lama dava lugar à poeira e os estabelecimentos sem movimento, a não ser o de empenho na limpeza, compunham um quadro que mais se assemelhava aos vilarejos do velho oeste retratados nos filmes de faroeste.
                        A região parou. Praticamente nada funcionava. O dia foi de limpeza e cálculos dos prejuízos. No início da noite a chuva ameaçou voltar e aí o cenário era de uma cidade fantasma. Muitos lugares continuavam ainda sem energia, inclusive o meu prédio. Desta vez os nove andares foram galgados sofregamente sob a luz de um isqueiro. E para desespero dos moradores não tínhamos mais água. Com a falta de energia não houve como reabastecer os reservatórios. Perambulei um pouco pela casa sob a luz de velas, comi o que achei na geladeira e fui dormir sem banho mesmo. Para um notívago, dormir as oito horas da noite é uma verdadeira tortura.
                        Agora, uma semana depois, o sentimento dos moradores é de raiva e de revolta com os governantes. E com toda a razão. Uma região que é cortada por três rios que deságuam no mar não deve ser tão difícil de ser devidamente canalizada. Já começaram as passeatas e protestos.
                        Mas agora tudo é Copa e Olimpíadas. Quero ver como vai ser se no período, se é que isso vai mesmo acontecer tendo em vista que as obras em todo o País estão atrasadas, houver uma enchente dessas. E com todo o respeito aos cariocas que foram prejudicados, tomara que haja!

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